20 de abril de 2015

Histórias trágico-marítimas

Maria Helena Vieira da Silva, História trágico-marítima ou O naufrágio, 1944

Naufrágios

Continuam a naufragar argonautas anónimos dos nossos dias nas águas tépidas do mar Mediterrâneo, o Mare Nostrum latino, o maior mar interior de águas salgadas do mundo, um mar entre terras, berço de culturas e civilizações milenares, espaço privilegiado de contacto de povos oriundos de três continentes.

Os imigrantes clandestinos dos nossos dias naufragados nas rotas da morte abrem telejornais e preenchem as primeiras páginas dos jornais, com imagens em movimento dinâmico de filme ou estático de foto, testemunho mudo de dramas alheios, de flashes de desespero, de fugas massivas à guerra, à miséria, ao caos.

Os comentadores dos mass media falam em desastre, genocídio, tragédia, causados por traficantes, terroristas, esclavagistas, palavras muito fortes com um poder muito fraco para explicar os 700 vítimas dum só dia, a juntar à 900 do primeiro trimestre do ano ou dos 300 das últimas notícias ao minuto da NET.

Os números são assustadores e deixam a perder de vista as histórias trágico-marítimas dos naufrágios cantados nas páginas das epopeias de helenos, latinos e lusitanos, heróis com nome registado na memória das gentes e direito a panteão nacional, arautos duma gesta pretérita que não admite concorrências no porvir...

4 comentários:

  1. ... e não se consegue acabar com estas histórias trágico-marítimas da actualidade ???

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  2. Ando atónita com toda esta realidade, um texto que ao fazer a ponte entre o passado e o presente, ainda mais atónita me deixa!

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  3. Carla de Jesus Roque23 de abril de 2015 às 11:33

    Realidade muito dura sem fim à vista.

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  4. Bipolaridades das margem sul e norte do Mediterrâneo, os ricos que se queixam das crises da vida e os pobres que fogem a um morte certa em troca duma morte incerta...

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