10 de junho de 2015

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

ANÓNIMO, Camões na prisão de Goa (1556) 
DE repẽte, apeteceome celebrar o dia de Camoens, de Portugal, & das communidades portogueſas eſpalhadas pelo mũdo, com hũ texto ortogra-phado á maneyra do poeta, para aßim demõſtrar o meu patriotiſmo, palaura q̃ nos noßos tẽpos paßou a eſtar aßoçiada a formas de regiſto de lingoa chriſtalizadas  eras preteritas. ʃim, por hũa atualizaçam das conuçoens normatiuas paßou a ſer cõſiderado  crime de verdadeyra leſamageſtade, ou, ſe prefferirmos, de leſaluſitaniſmo...
         SONETO               
         MVdaõſe os tẽpos, mudaõſe as võtades,
         Mudaſe o ſer, mudaſe a cõfiança
         Todo o mũdo he cõpoſto de mudança,
         Tomando ſẽpre nouas qualidades.

         Continuamẽte vemos nouidades,
         Differẽtes ẽ tudo da eſperança,
         Do mal ficaõ as magoas na lẽbrança,
         E do bẽ (ſe algũ ouue) as ſaudades:

         O tẽpo cobre o chaõ de verde manto,
         Que ja cuberto foy de neue fria,
         E ẽ mim conuerte ẽ choro o doce canto.

         E affora eſte mudarſe cada dia,
         Outra mudança faz de mór eſpanto,
         Que não muda ja como ſoia.

LVIZ VAZ DE CAMOENS

3 comentários:

  1. Prof., como eu admiro este fino espírito de pedagogo nato! Mudam-se os tempos e eu espero continuar a ter a mente aberta para aceitar as mudanças que já são práticas regulares...

    ResponderEliminar
  2. A pedagogia continua a ser o melhor antídoto contra a demagogia, epidemia que nestas questões do registo ortográfico da língua teima em ser a rainha absoluta...

    ResponderEliminar
  3. "Continuamente vemos novidades / Diferentes em tudo da esperança / Do mal ficam as mágoas na lembrança / E do bem, se algum houve, as saudades". O mundo, sempre em contínua mudança. Os tempos mudam, as vontades mudam, mas os grandes problemas que afetam a Humanidade permanecem...

    ResponderEliminar