11 de novembro de 2015

Castanhas e vinho do verão de São Martinho

José Malhoa, Festejando o São Martinho (1907)
[Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado]
     No dia de São Martinho, come-se castanhas e bebe-se vinho...
Provérbio popular
Corria o ano de 1504, quando Gil Vicente representou para a rainha D. Leonor de Lencastre o Auto de São Martinho. Tudo se pas-sou durante as festividades do Corpus Christi, provavelmente antes da procissão ter saído da igreja de Nossa Senhora do Pópulo, anexa ao hospital termal que a soberana fundara nas Caldas. A história sobejamente conhecida de todos foi contada em poucas palavras, porque, como confessa o dramaturgo na didascália final, a obra de devoção católica fora pedida muito tarde. Em onze oitavas decas-silábicas, repartidas por duas cenas, o Pobre lamenta-se da sua sorte de indigente e solicita a Martinho esmola, que reparte com o pedinte metade da sua capa. Tudo isto em castelhano, a língua de corte dos Avis-Beja durante pelo menos três quartos de século.

A lenda/milagre terá ocorrido em meados de novembro, altura em que os derradeiros calores estivais começam a ser rendidos pelos primeiros frios outonais. Meia estação conhecida por Verão de São Martinho. Para celebrar essa mudança gradual de temperaturas, costuma celebrar-se o magusto com castanhas assadas regadas com vinho novo ou água-. José Malhoa representou uma dessas festanças pagãs em honra de Dionísio-Baco, numa tela pintada a óleo em 1907. A popularidade que granjeou na época manteve-se intacta até aos nossos dias. Os excessos realistas documentados no quadro levaram a ser conhecido alternativamente como Os bêbados. Título adequado para descrever com uma imagem aquilo que as tais mil palavras seriam incapazes de traduzir cabalmente.

3 comentários:

  1. Uma festa pagã que foi motivo para relembrar, neste registo digno, Gil Vicente e Malhoa, dois portugueses ilustres que o bom povo, infelizmente, nem deve conhecer apesar de aderir em massa a estes excessos...

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  2. Dois flashes caldenses, com o dramaturgo que fez representar o auto na igreja do hospital da rainha, e com o pintor água-morna que representou um magusto celebrado à maneira estremenha.

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  3. Uma história velhinha sempre contada todos os Outonos da minha meninice na escola primária.

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