21 de maio de 2016

Uma biblioteca sobre rodas

BIBLIOTECA ITINERANTE
[Fundação Calouste Gulbenkian]
O meu gosto pelos livros a cheirar a tinta impressa vem de longe. Remonta a uma velha carrinha Volkswagen pão de forma carregada de tentações escritas para serem lidas. Estacionava periodicamente na praça central da minha terra de menino e moço e me permitia entrar no universo de histórias contadas com palavras desenhadas com letras de forma. Viajavam de terra em terra por iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian, que assim me proporcionou uma meia dúzia de encontros imediatos com a literatura por visita.

Não me lembro com exatidão de todos os livros que de lá trouxe e li. Pouco importa. Apanhava tudo o que me vinha à mão. Todos os autores, todos os géneros, todos os tamanhos. Tal como mais tarde faria na biblioteca municipal para onde o acervo desses volumes peregrinos foi transferido. Começava numa prateleira até chegar ao fim e só depois passava à seguinte. Contos, novelas, romances. A eito. Aventura, drama, lírica, história, música, arte. Sem limitações. Prosa e verso. E por aí fora sem esquisitices de espécie alguma.

Pelo percurso ainda ficaram as bibliotecas de turma do preparató-rio. Depois vieram as bibliotecas universitárias e nacionais. O gosto apurou-se, restringiu-se, especializou-se. E lá foi crescendo uma biblioteca pessoal que hoje não me cabe nas estantes cá de casa. Agora há a alternativa do digital. E-books se chamam também por cá, nesta ânsia doentia de sermos ingleses à força. Mas os livros-e não se deixam sublinhar, anotar ou tocar. Não se deixam carregar debaixo do braço e não cheiram a tinta acabada de imprimir...

4 comentários:

  1. Belo texto, de recordações a cheirar a livros impressos e de despertares para o mundo das letras. As carrinhas de leitura da Fundação foram notícia e boa semente plantaram por este país fora, numa das inúmeras iniciativas louváveis em que é mestre!

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  2. José Manuel Moreira Cláudio22 de maio de 2016 às 09:24

    Muito interessante este seu artigo que me fez recordar, sem tirar nem pôr, o que também sentia, quando esta carrinha estacionava em Aveiro, há... sessenta e tal anos atrás...

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  3. Teresa Salvado de Sousa22 de maio de 2016 às 11:42

    Que bela evocação! E que belo retrato dos percursos dos que gostamos de livros! Também andei pelas carrinhas da Gulbenkian - aprendi a escrever o meu nome, aos 4 anos, para assinar a ficha de requisição dos livros que escolhia (ou o bibliotecário e os meus pais me escolhiam) e que, depois, me liam em casa até, pouco a pouco, os ler sozinha. E também ainda não leio com rapidez e gosto os e-books (quanto a jornais, já me converti)

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  4. Fazer chegar o livro a todos aqueles que não o procuravam, especialmente nas zonas do interior, e despertar neles a atração pela leitura, foi o contributo dado por estas bibliotecas, na tentativa de formar um país de leitores.

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