8 de julho de 2016

Jardins do Paraíso

Hieronymus Bosch
[Museo del Prado - Madrid] 


CONTOS & QUADROS


«Eu, súbdito feliz da Europa Federada, recebo todos os dias o recado subliminar: “Alegra-te, cidadão, que estás no melhor dos mundos. Tens a Federação e a prosperidade; estás, enfim, no Jardim das Delícias. Agora goza-o, paga os impostos, olha para o ecrã de televisão e não chateies” Tudo isto, evidentemente, omitindo os despedimentos em massa de cada vez que há uma fusão de empresas ou de cada vez que uns quantos acionistas querem comprar um Ferrari novo. A mensagem ignora tudo isso, apenas fala subliminarmente do Jardim das Delícias, na imprensa, nos discursos, nas telenovelas. E eu defeco sobre este jardim, que é uma paisagem de pesadelo, como aquele tríptico do nosso querido Hieronymus Bosch, o qual deve ter tido uma antevisão do futuro que corresponde ao nosso presente. Defeco e não me sinto minimamente feliz.»
NOTA
Agora que a coesão da União Europeia das estrelas douradas em fundo azul começa a vacilar, apetece lembrar as antecipações de futuro ficcionadas por João Aguiar em forma de conto n'O canto dos fantasmas (1900) e de novela n'O jardim das delícias (2005). Tempus fugit vincit qui se vincit...

3 comentários:

  1. Tema infelizmente sempre atual, com o povo feliz em frente da TV a festejar a bola ou algum cantor mediático ou alguma telenovela ou 'talk show' de promiscuidades mil, de cervejinha na mão e uns quantos petiscos para desenjoar. A crise parece ter vindo para ficar. Crise financeira a que a crise de valores não fica aquém...

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  2. O "Jardim das delícias", sinónimo de prosperidade, aqui retratado como o melhor dos mundos, proporcionado por uma Europa Federada, transformou-se numa paisagem pesadelo, em que os cidadãos enfrentam tantos e tão graves problemas, e quem sabe,. o fim do modelo Estado Providência. Uma realidade dura...

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  3. José Manuel Moreira Cláudio12 de julho de 2016 às 11:07

    Gostaria de continuar a acreditar na Europa; infelizmente a deriva neoliberal que se foi instalando, nomeadamente a partir da senhora Tatcher, na Inglaterra e a falta de gabarito dos principais dirigentes europeus, que nada têm a ver com os leaders depois da guerra, tem comprometido um processo de paz, de relativo progresso e de um desemprego controlado que esta União chegou a liderar...

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