24 de outubro de 2016

E a cítara virou guitarra-elétrica e a flauta gaita-de-beiços


Μνιν ειδε, θε, Πηληϊδεω χιλος
ολομνην, μυρί᾿ χαιος λγε᾿ θηκε,
πολλς δ᾿ φθμους ψυχς ϊδι προαψεν
ρων, ατος δ λρια τεχε κνεσσιν
οωνοσ τε πσι· Δις δ᾿ τελεετο βουλ,
ξ ο δ τ πρτα διασττην ρσαντε
τρεδης τε ναξ νδρν κα δος χιλλες.
Όμηρος - λιδος (I, 1-7)

Do canto épico à folk music...


O Nobel da Literatura foi atribuído este ano a Bob Dylan, por ter criado novos modos de expressão poética no quadro da tradição da música americana. As reações pró/contra surgiram em catadupa. A mais sig-nificativa será a indiferença do próprio laureado. Um silêncio ensur-decedor. Atitude surpreendente para alguns, naturalíssima para outros, mas pouco original para todos os que guardam na memória o registo doutros casos similares e identicamente polémicos.

Boris Pasternak foi obrigado a renunciar em 1958 ao prémio, para assim evitar as sanções do regime soviético contra si e familiares. As importantes conquistas alcançadas na poesia lírica e na tradição épica russa, apontadas pelos académicos suecos, desencadearam a cólera do Kremlin contra Estocolmo. Uma guerra fria de Aqueus e Troianos dos nossos dias sem a presença heroica de Aquiles e Heitor de antanho a darem corpo à fábula e sentido ao canto.     

Jean Paul-Sartre foi o eleito em 1964, pela influência profunda que o seu trabalho, rico em ideias e preenchido com o espírito da liberdade e a busca da verdade, tem exercido nas gerações atuais. Indiferente as razões evocadas, recusa a distinção, pois ao recebê-la arriscaria a sua identidade como filósofo. De pouco lhe valeu. Continua a fazer parte do rol dos heróis modernos do Parnaso e o valor do prémio foi-se para outros bolsos. Há coerências que saem caras.

Mario Vargas Llosa, galardoado em 2010, reagiu com sarcasmo a partilhar a galeria das celebridades literárias com um baladeiro. Con-sidera que a sociedade está marcada pelo espetáculo em todas as atividades, incluindo a cultura e a política, perguntando-se se na próxima edição a sorte não recairá sobre um futebolista. Uma opinião entre muitas outras. Os detratores e entusiastas da ideia que se digladiem entre si. Têm o campo livre. Por mim, fico-me por aqui.

3 comentários:

  1. É complicado. Um cantautor é um escritor em certo sentido. Mas será literatura a letra de uma canção? O que é a literatura? Estranhei este prémio atríbuido a Bob Dylan, mas não muito...

    ResponderEliminar
  2. Literatura felizmente abrange a poesia de Dylan.

    ResponderEliminar
  3. Desde criança que considero literatura tudo o que me vem parar às mãos na forma escrita e me ajuda a mergulhar no mundo único da reflexão. A poesia de Bob Dylan é mágica. Se não quer o prémio, está no seu pleno direito de opção.

    ResponderEliminar