16 de junho de 2017

A aliança das rosas

ALIANÇA ANGLO-PORTUGUESA
[16 de junho de 1373]
Prato de porcelana da Vista Alegre comemorativo do 600.º aniversário

Ambas as coisas...

A Fábrica de Porcelana da Vista Alegre produziu em 1973 um prato comemorativo do 600.º aniversário da mais antiga aliança diplomáti-ca do mundo, assinada em 16 de junho de 1373, em Westminster, em nome de D. Fernando I de Portugal e de Eduardo III de Inglater-ra. Está decorado com as armas reais das casas de Borgonha e Plantageneta, e os atuais brasões da República Portuguesa e do Reino Unido, sobre fundo azul e ouro. Faz-se ainda acompanhar dum dístico elucidativo da efeméride e de duas rosas heráldicas identificativas dos dois soberanos, a branca do bisneto da Rainha Santa Isabel e a vermelha do avô da Rainha Filipa de Lencastre.

O tratado estabelecido pelas duas coroas frutificaria ao longo dos séculos, para proveito mútuo das partes envolvidas. As rivalidades com Castela, pela soberania dos tronos peninsulares, ou com Fran-ça, pela hegemonia dos impérios globais, levaria ao reforço desse acordo. Entre todos, destacam-se os tratados de Windsor (1386) e Methuen (1703). Pelo meio, ficaram os pactos acordados pelas ca-sas de Bragança e Stuart, aquando da Guerra de Restauração (1640-1668). À luz das relações luso-britânicas, viver-se-á o Blo-queio Continental (1806-1814). À sua sombra, o Mapa Cor-de-Rosa desencadeará a humilhação portuguesa do Ultimato Inglês (1890).

Todas as rosas têm espinhos. As da paz e as da guerra. El-rei D. Fernando I, o Formoso ou o Inconstante, enquadra-se bem neste conceito. Tanto assinava tratados de amizade como os rasgava de seguida. Manteve a palavra com Inglaterra, quebrou-a com Castela. Esta caráter bipolar é confirmado na sentença que dá alma ao cor-po da divisa Cur non untrunque, pedida emprestada a Santo Agos-tinho (Confissões: xii, 32). «Por que não ambas as coisas?». Ser brando com uns e duro com outros. Estar bem com Deus e com o Diabo. Por um qualquer motivo, lembrei-me do Brexit. Sair da Euro-pa e ficar na Europa. Ubiquidade britânica que o tempo esclarecerá.

2 comentários:

  1. Muito bom e interessante.
    As relações entre reinos e paises sempre tiveram duas caras, consoante os interesses e as forças em jogo. Acho que faz parte das relações intrinsecas de poder.

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  2. Uma feliz rec$ordação das alianças britânicas... A Inglaterra foi sempre perita em defender os seus interesses e Portugal foi uma vítima constante. Vamos lá a ver se a UE terá garras para assinar um acordo decente...

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