10 de junho de 2017

Falar a língua em que se mamou...

Samuel Usque
Consolação às tribulações de Israel
Ferrara, 1553


Prologo

Algũs  ſeñores  quiſerom dizer antes que
ſoubeſem  minha  razam, que fora milhor
auer cõpoſto  em  lingoa  caſtelhana, mas
eu  creo que niſſo nam errey, porque ſen-
do o  meu principal  yntento falar cõ Por
tugheſes e repreſentando a  memoria  de-
ſte  noſſ deſterro  buſcarlhe  per  muitos
meos  e  longo  rodeo,  algum  aliuio aos
trabalhos  que  nelle  paſſamos,  deſconue
niente  era  fugir da  lingua que mamey e
buſcar outra preſtada per a falar aos meus
naturais; E  dado  caſo  que  A  volta ou-
ue muitos do desterro de Caſtela,
e os meus paſſado a daly ajam
ſido, mais razaõ parece
que tenha agora co
nta com o pre-
ſente e
ma-
yor can-
tida-
de.

CONSOLACAM AS TRIBVLACOENS DE ISRAEL 
COMPOSTO POR SAMVEL VSQVE.

NOTA:
Assim se ortografava no tempo de Samuel Usque, assim se ortografava também no tempo de Luís de Camões, assim se demonstra deter cada tempo os seus usos de ortografar a língua que se mamou na infância...

5 comentários:

  1. Artur, sinto que perdi parte do sentido do texto...

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    1. Samuel Usque foi obrigado a fugir da Inquisição Portuguesa e a refugiar-se em Ferrara, onde publicou a «Consolação às Tribulações de Israel» (1553). No prólogo destinado aos leitores, explicou que tinha optado pelo português, por ser a língua que mamara na infância, em detrimento do castelhano, então transformada na língua de comunicação mais divulgada na Europa. Demonstrou, assim, uma afeição indelével ao idioma materno, apesar de ter sido obrigado ao exílio fora do seu país natal. Um exemplo a considerar como ponto de reflexão neste 10 de junho em que se comemora o dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas no mundo...

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  2. Inspirador para os adictos ao acordo ortográfico de 1945. (faço notar que como o c se pronuncia, também se escreve, segundo o novo acordo). Pode ser que os mesmos entendam o que é a língua de Camões e ganhem folgo para a aprender.

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    1. Acertaste na muche, que a história da língua falada e escrita não está congelada no espaço e no tempo. Lá vai evoluindo como todos nós que temos e vida e lhe damos um pouco dessa nossa vida...

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  3. Um texto bem original, que desconhecia de todo! É de privilegiar a língua materna que tanto nos ensinou, de tão rica que é. A evolução da língua escrta e falada é sempre um desafio a enfrebtar!

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