15 de dezembro de 2017

Real, real, real, por el-Rei de Portugal!

Veloso Salgado - Coroação de D. João IV - 1908

[Lisboa, Museu Militar: Sala da Restauração]

GUERRA DE PALAVRAS

Do levantamento-aclamação à coroação-restauração


Duas semanas após o levantamento aristocrático do Primeiro de Dezembro de 1640, o até então Duque de Bragança é formalmente aclamado Rei de Portugal, tendo ficado conhecido nos anais históricos como Dom João IV, o Restaurador. A cerimónia decorreu num palanque junto à varanda do Paço da Ribeira, tendo sido testemunhada pelos conspiradores e presenciada pela arraia-miúda concentrada no vasto terreiro palaciano que dava para o Tejo. Coroação lhe chamou Veloso Salgado, seguindo os parâmetros dum romantismo tardio que o inspiraram na recriação da cena.

A notícia da cessação da Monarquia Dual caiu como uma bomba em Madrid, tendo sido particularmente sentida pela Majestade Católica de Filipe IV de Castela, por se ter visto despojado dos reinos e senhorios da Coroa de Portugal. A entronização do novo soberano em Lisboa e a fundação duma nova dinastia, sob a égide da Sereníssima Casa de Bragança, ramo lateral das de Borgonha e Avis-Beja, desencadeou um longo conflito de vinte e oito anos. Na época foi designado por Guerra da Aclamação, a que a leitura nacionalista recente rebatizou de Guerra da Restauração.

A restauração dum rei natural e deposição dum estrangeiro afirma a independência da Monarquia Lusitana face à Hispânica. Revela, também, uma oposição ao projeto do Conde-Duque de Olivares de converter os reinos ibéricos em meros satélites do Rei-Planeta, em torno do qual orbitariam para sempre. A História lá nos vai dizendo que a substituição duma legalidade obsoleta por uma atualizada costuma recorrer a atos de rebeldia contra o poder instituído. Só assim se muda um regime, se aclama uma nova ordem, se recupera um governo autónomo e liberto de vontades alheias.

Anónimo - Juramento e Aclamação de D. João IV (c. 1640)
[Paço Ducal de Vila Viçosa - Fundação Casa de Bragança]

3 comentários:

  1. Sim, é verdade. Todavia chega uma altura em que devemos escolher bem onde queremos gastar as nossas energias, especialmente quando há problemas maiores do que os nossos.

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  2. Por isso mesmo, a guerra das armas pode ser substituída pela guerra das palavras e, no final, que ganha o melhor...

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  3. Numa época em que julgamos viver num mundo mais evoluído em termos positivos, é de lastimar que o homem ainda não seja capaz de se entender através da guerra de palavras, na verdade. Antes pelo contrário, parecem ser mais as pedras que se lançam...

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