14 de março de 2018

Papagaio de papel


ESTRELA COMETA - PAPAGAIO
Em tempos que já lá vão tive uma estrela colorida de papel de seda presa por um cordel. Quando lhe apetecia e o vento estava de feição, voava por cima da minha cabeça de criança maravilhada com o prodígio que tinha entre mãos. Vistas bem as coisas, tratava-se mais dum cometa do que duma mera estrela de pequena ou média grandeza. A longa cauda que a acompanhava marcava a diferença. Os laços pintados com todas as tonalidades do arco-íris que os meus olhos conseguiam identificar dava-lhe um porte majestoso difícil de descrever.

A memória dos meus cinco anos diz-me que a fiz com a ajuda do meu pai e irmão. Recortámos o papel em triângulos e os caniços em tiras delgadas. Colámos as asas com uma pasta feita de farinha e água. Deixámos secar e juntámos os laçarotes à cauda da tal estrela-cometa também conhecida por papagaio, pandorga ou raia. Atámos o cordel e pusemo-la a pairar num lameiro ventoso da serra do Caramulo. Elevou-se nos ares, galgou distâncias e chegou até mim, àquele que agora sou, guiada pela força das lembranças e uma boa pitada de imaginação.

6 comentários:

  1. Benditas recordações coloridas da infância, que nos fazem reaviver momentos mágicos...

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  2. E com essa magia nos tornam os dias mais coloridos.

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  3. Isabel Trüninger de Albuquerque18 de março de 2018 às 17:56

    Oh Artur é tão bonito o teu papagaio-estrela cometa, desenha-me a montanha e o céu e o vento e havia flores na tua montanha? Olha não sei o que é um lameiro. Bem me parecia que os papagaios-estrelas-cometas ficariam connosco para sempre...olha como é verdade!

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  4. A minha memória de 5 anos não reteve muito do Caramulo a não ser as paisagens geladas do inverno com a serra coberta de neve. Lembro-me de uma das casa que tivemos junto a um riacho e com as montanhas prateadas como pano de fundo. Retive essas imagens porque na Estremadura onde nasci e fui criado me parecia algo de perfeitamente exótico. Ficaram-me também dessa curta permanência de alguns meses meia dúzia de palavras que até então desconhecia. Lameiro é uma delas e refere-se aos campos comunitários destinados à pastagem do gado. Em português normativo diríamos prado.

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  5. Um lindo texto num dia em que nos deixa alguém que tanto insistiu para que olhemos as estrelas... Como eram férteis as nossas imaginação e criatividade nesses tempos em que ainda não havia drones!
    Foi bom retomar essa memória dos tempos em que o meu irmão mais velho os fazia e lançava na laje enorme que havia perto da nossa casa... lajes e lameiros que agora estão vazios de crianças a brincar!

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  6. ...e que o ''papagaio de papel'' continue voando por longos anos...

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