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CAMÕES (2019) Alexandre Farto Aka Vhils [Lisboa, Imprensa Nacional, Mural] |
Doces lembranças da passada glória
Doces lembranças da passada glória,
Que me tirou Fortuna roubadora,
Deixai-me descansar em paz ῦ'hora,
Que comigo ganhais pouca vitória.
Impressa tenho n’alma larga história
Deste passado bem, que nunca fora;
Ou fora, e não passara; mas já agora
Em mim não pode haver mais que a memória.
Vivo em lembranças, mouro d’esquecido
De quem sempre devera ser lembrado,
Se lhe lembrara estado tão contente.
Oh quem tornar pudera a ser nascido!
Soubera-me lograr do bem passado,
Se conhecer soubera o mal presente.
Luís de Camões*
NOTAS
Soneto autobiográfico a assinalar o início tímido e tardio da celebração oficial dos 500 anos do nascimento de Camões, na data apontada para a sua morte. Absurdos repetidos à exaustão, a de-monstrar por A+B a importância que se costuma dar em vida aos grandes vultos da cultura, faz-se tábua rasa do berço e tecem-se loas à tumba.
* Transcrita por Frederico Lourenço IN Camões, Uma antologia. Lisboa: Quetzal, 2024
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