11 de abril de 2021

Foi neste dia há uma porção de anos

A FRAGILIDADE DOS RECÉM-NASCIDOS
O pintainho Artur não estava confortável dentro do seu ovo. Crescera tanto que aquele quarto se tornava pequeno... Dentro da casca Artur sentia-se a salvo, mas estava muito apertado. Já não cabia naquele quarto quente de paredes brancas, de forma que não teve outra solução a não ser sair dali. Descobriu então que habitava uma parte muito pequena de um mundo enorme e desconhecido que se abria perante os seus olhos pequenos e curiosos.
Oli & Marc Taeger, Artur, 2011 (contracapa)
A pedra e o urso das lendas celtas... 
Foi neste dia há uma porção de anos que vi pela primeira vez a luz do dia no velho Hospital de Santo Isidoro das Caldas da Rainha. Apesar de ter sido o protagonista do evento, não guardo a mínima memória dessa data. Segundo o que fui sabendo, nasci numa Sexta-feira Santa, também dedicada a Santo Estanislau. Felizmente que a tradição dos Artur na família me livraram de ter o mesmo nome do mártir de Cracóvia. Antes «pedra» e «urso» de origem celta que o «duradouro na glória» de base eslava.

Faz hoje quase meio século que atingi a maioridade, que então se fazia aos 21 anos, estava em Lisboa, era uma quarta-feira normal da semana, e só me apercebi que fazia anos quando regressei a casa e recebi alguns telefonemas a felicitar-me. Tive o dia ocupado com aulas e a efeméride passou-me completamente à parte, apesar da sua importância relativa. Não tive direito a nenhuma festa especial até ao fim de semana seguinte, quando o celebrei com toda a pompa circunstância usual dum Domingo de Páscoa.

A minha primeira internacionalização aniversariante ocorreu em meados de 90, eu tinha dobrada a casa dos 40 e apanhou-me em Londres. As minhas três meninas convidaram-me a almoçar num rodízio de pizzas nas imediações da Whitehall. À noite, soprei no quarto do President Hotel uma simbólica vela alusiva, substituída por um fósforo aceso, espetado numa espécie de queque comprado para esse efeito no food hall do Marks & Spencer. Também me cantaram os parabéns e bateram palmas como manda o figurino.   

Cumprem-se hoje 1/2 dúzia de anos que rumei a Copenhaga para celebrar com o núcleo familiar dinamarquês mais um aniversário. O ato teve lugar no Parque Nacional dos Veados de Jægersborg e assumiu o formato dum piquenique em plena natureza e primavera escandinavas. Como prenda de anos mais significativa, fomos brindados com um dia de sol esplendoroso, uma temperatura muito amena e sem pinga de chuva, algo pouco comum naquelas latitudes. Agradecemos, brindámos e petiscámos em corpo bem-feito.

No ano que antecedeu a pandemia que nos pôs todos de cara tapada, recebi como prenda de aniversário uma semana em Florença. Essa viagem fazia parte dos meus planos há muito tempo e tencionava efetuá-la assim que deixasse de trabalhar. Assim foi. Na cidade das flores e das artes, celebrámos a data no Ristorante Il Bargello, localizado na Piazza della Signoria. Escolhi uma pizza fiorentina na companhia de amizades de longa data vindas de surpresa da Bretanha pour fêter l'anniversaire de son vieux copain. Génial ! 

Faz hoje um ano que celebrei o nascimento numa cama do Hospital de Faro. Entrei para uma pequena cirurgia que se resolveria em três dias e acabei por ficar quase três meses. Imprevistos que dispenso no futuro. O confinamento que já estava em vigor impediu-me de ver a família, mas mesmo assim tive direito a uma fatia de bolo feito em casa. Toda a equipa médica e de enfermagem, pessoal auxiliar e restantes pacientes cantaram-me os parabéns e desejaram-me uma alta rápida, o que de facto aconteceu no dia da liberdade.

À beira dos 70, as fronteiras concelhias atuais têm-se tornado mais difíceis de vencer do que as internacionais de Londres, Copenhaga ou Florença do passado. Nestes tempos de pandemias infindáveis, não há passaporte, bilhete de identidade ou cartão de cidadão que nos valha. Apetecia-me andar por aí à procura dum local aprazível para passar mais um aniversário. Sevilha, Barcelona, Madrid já seriam destinos desejáveis, para não falar noutros mais distantes. Entretanto o melhor é ficar em casa. Para o ano logo se vê.

4 comentários:

  1. Parabéns, meu amigo!
    Apesar de virtual é uma amizade sincera que sobrevive na esperança de um encontro numa qq esplanada à beira da ria Formosa.
    Já cá chegou, viva!
    Goze o número...

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  2. Muitos parabéns, Artur!
    A tua estória está bonita, envolta em ternura e humor que a tornam especial, começando pelo conto infantil a que os teus amigos franceses baptizaram com o teu nome.
    Para já, tens sorte com o nome bonito e histórico que a tradição familiar te legou, que te assenta como uma luva, sem nada do urso e da pedra que o seu significado sugere. Sorte tua teres escapado à tradição do almanaque! (Não direi o mesmo, pois teria o bíblico nome de Judite, em vez do germânico Ernestina...).
    Muitas mais histórias interessantes terás para nos contar nos próximos anos sobre o teu dia natalício e eu espero poder continuar a segui-las. Que para o ano já consigas ir a Viena ou outro destino igualmente promissor, com a saúde já restabelecida e muitas energias para calcorrear seca e meca!
    Carpe diem!

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  3. Isabel Trüninger de Albuquerque12 de abril de 2021 às 09:44

    Grande abraço e beijinho de parabéns Artur! Tens passado com certeza um grande dia, cada ano que passa é uma esperança renovada, e tu és um exemplo que esperança e sorte se constroem e desenvolvem todos os dias. " A utopia está no horizonte. Avanço dois passos e ela recua dois passos. Avanço mais dez passos e ela recua outros dez. Por mais que ande, nunca mais lá chegarei. Para que serve então a utopia? Para isto: para continuarmos a andar." Eduardo Galeano. E é isto continuarmos a andar com o entusiasmo do 1º dia. Beijinhos a todos que te acompanham e te amam, uns mais próximos, outros mais afastados, como nós que te temos como amigo.

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  4. Recordações bonitas! Isso é vida. Parabéns, por tudo que foi, é e será! Abraço amigo.

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