« Déjà il se réjouissait du plaisir de son aîné, car jamais on ne vit adolescent plus aimable et plus prompt à rendre service ; mais une déception l’attendait à Car-duel : la salle où Keu avait laissé son épée était fermée à clef, l’écuyer qui en avait la garde s’étant lui-même rendu sur les remparts pour voir la mêlée. Arthur n’avait plus qu’à en prendre son parti... Keu ne se battrait pas ce jour-là. || Comme il repassait par la place de l’église, ses regards furent attirés par l’enclume qui étincelait sous les rayons du soleil couchant. Se souvenant qu’il n’avait pas encore tenté l’épreuve, il s’en approcha puis, par jeu, sans même mettre pied à terre, se pencha vers l’épée merveilleuse pour la saisir. Miracle ! à peine l’a-t-il touchée que, d’elle-même, l’épée jaillit tout entière hors du bloc d’acier et vient se placer dans sa main. || Ayant caché l’arme sous un pan de son manteau, Arthur regagna en hâte le lieu où il avait laissé son frère : " Je n’ai pas pu ramener ton épée mais je t’apporte celle de l’enclume ", lui dit-il en toute innocence. »
O mundo que nos rodeia está povoado de mistérios que as sucessivas gerações de homens têm vindo a explicar de modo parcelar através dos mitos. O desconhecido passou a ter sentidos sistematizados nos livros sagrados das religiões. Essas pequenas histórias globais foram depois associadas às lendas locais. Dizem que foi assim que nasceu a literatura. As grandes epopeias antigas e modernas são um exemplo acabado desta realidade. Assim aconteceu com Gilgamesh, o antigo rei de Uruk que os inventores sumério-acadianos de heróis divinos descreveram, em placas de argila com trinta e cinco séculos de existência, como o grande homem que não queria morrer e encetou uma longa viagem de aventuras para descobrir os segredos da vida eterna.
Os ecos distantes da Guerra de Troia (c. 1250 AEC) travada junto ao Helesponto chegaram aos ouvidos de Homero e Virgílio, que se limitaram a transformar os factos reais ocorridos num passado remoto nas peripécias imaginadas nas rapsódias helénicas da Ilíada-Odisseia (séc. VIII AEC) e nos cantos latinos da Eneida (séc. I AEC). Xavier de Langlais seguiu os mesmos trilhos dos seus ilustres antecessores greco-romanos para compor O romance do Rei Artur (1965-1971), tendo resgatado para a linguagem dos nossos dias a memória das sagas e gestas celtas ainda pagãs de resistência às invasões saxónicas (450-510) das duas Bretanhas, a insular e a armoricana, que antecederam a queda de Roma (476) e marcaram os alvores da cristianização europeia.
Os contos medievais de cavaleiros andantes e amor cortês foram revisitados, as redundâncias discursivas expurgadas, as lacunas entre episódios colmatadas e as contradições existentes entre as diversas versões escritas em verso e prosa resolvidas. As fontes literárias primitivas foram respeitadas na refundição-edição do novo conteor, quer a composta em latim pelo clérigo galo-bretão Geoffrey de Monmouth na Historia Regnum Britaniæ (1130-1136), quer a traduzida para francês antigo pelo poeta anglo-normando Wace no Roman de Brut (1150-1155). Acrescentaram-se alguns lances complementares produzidos sobretudo por Chréstien de Troyes na série de Romans de la Table Ronde (1170-1182/1190) e que dariam corpo à Vulgata e pós-Vulgata do ciclo arturiano.
Os ecos distantes da Guerra de Troia (c. 1250 AEC) travada junto ao Helesponto chegaram aos ouvidos de Homero e Virgílio, que se limitaram a transformar os factos reais ocorridos num passado remoto nas peripécias imaginadas nas rapsódias helénicas da Ilíada-Odisseia (séc. VIII AEC) e nos cantos latinos da Eneida (séc. I AEC). Xavier de Langlais seguiu os mesmos trilhos dos seus ilustres antecessores greco-romanos para compor O romance do Rei Artur (1965-1971), tendo resgatado para a linguagem dos nossos dias a memória das sagas e gestas celtas ainda pagãs de resistência às invasões saxónicas (450-510) das duas Bretanhas, a insular e a armoricana, que antecederam a queda de Roma (476) e marcaram os alvores da cristianização europeia.
Os contos medievais de cavaleiros andantes e amor cortês foram revisitados, as redundâncias discursivas expurgadas, as lacunas entre episódios colmatadas e as contradições existentes entre as diversas versões escritas em verso e prosa resolvidas. As fontes literárias primitivas foram respeitadas na refundição-edição do novo conteor, quer a composta em latim pelo clérigo galo-bretão Geoffrey de Monmouth na Historia Regnum Britaniæ (1130-1136), quer a traduzida para francês antigo pelo poeta anglo-normando Wace no Roman de Brut (1150-1155). Acrescentaram-se alguns lances complementares produzidos sobretudo por Chréstien de Troyes na série de Romans de la Table Ronde (1170-1182/1190) e que dariam corpo à Vulgata e pós-Vulgata do ciclo arturiano.
A tarefa monumental de compilação de toda a matéria canónica foi efetuada em cinco etapas estando agora reunida em dois únicos volumes em tamanho de bolso. O primeiro remete-nos basicamente para as aventuras terrestres (Merlim e a juventude de Artur, os companheiros da Távola Redonda, os primeiros amores de Lancelot e da rainha Genebra e os feitos de Perceval e de Galaad) e o segundo para as aventuras celestiais (a demanda do Graal e o fim dos tempos aventurosos). As duas etapas fundamentais, em suma, da grande epopeia celta que perfazem, em suma, a primeira grande epopeia produzida pela matriz cultural judaico-cristã, aquela que abriria um caminho à vitória decisiva da modalidade romanesca nas letras europeias hodiernas.
Lidos os livros do livro, perguntamo-nos quem seria esse tal Rei Artur dos relatos que ouvimos contar desde a nossa mais tenra infância. O que significa a espada Excalibur, o vaso do Santo Graal, o castelo de Camelot ou a ilha de Avalon. Qual a importância de se ser o melhor cavaleiro do mundo. As respostas são variadas. Verosímeis umas, fantasiosas outras. Os especialistas têm revelado as mais díspares hipóteses interpretativas. As registadas nos anais da História e as gizadas para dar sentido à fábula. As tradições de galeses, córnicos, escoceses, logrenses, islandeses e bretões mantiveram no ar as suas memórias seculares, que os bardos antigos e modernos moldaram ao sabor do momento. E assim os mitos se fizeram lendas. E assim das lendas pariram a literatura.
Texto evocativo muito interessante. Li o Ciclo de Pendragon I, II e III, de Stephen Lawhead, versam sobre Taliesin, Merlin e Artur, sempre apreciei o género literário. Gostava ainda de Marion Zimmer Bradley e das suas historias à volta de Avalon.
ResponderEliminarGrande resenha, Prof.! A literatura romanesca que acompanhou a nossa infância ainda hoje me seduz. Não resisto a reler alguns livros ou a rever filmes sobre as lendas do Rei Artur e os cavaleiors da Távola Redonda ou sobre os mistérios de Avalon...
ResponderEliminar