15 de novembro de 2021

Arturo, o guardião das ursas boreais

SIDNEY HALL
Urania's Mirror - Bootes, Canes Venatici, Coma Berenices, and Quadrans Muralis (1824)

Dizem que quando o Big Bang nasceu do tudo-nada, o universo inteiro cabia num único ponto, num átomo primordial, menor do que uma bola de bilhar, de ténis ou de ping-pong. Conjeturas teóricas para tentar explicar o início da grande expansão ocorrida há cerca de 13,8 mil milhões de anos, i.e., de quando o vazio se encheu de tudo aquilo que existe.

Dizem que há mais estrelas no céu do que grãos de areia na terra e haver mais partículas atómicas numa só molécula do que galáxias no universo visível. Dizem-se também coisas espantosas sobre o número total de neurónios no cérebro humano. Cifras tão desmedidas que a nossa mente finita de simples mortais tem dificuldade em contar ou assimilar.

Dizem as vozes que alimentam o senso comum ser mais fácil achar as estrelas duma constelação do que as restantes que a nossa vista alcança. São em número reduzido e constituem grupos perfeitamente localizáveis na imensidade luminosa da esfera sideral e costumam ter nomes próprios que escapam à simples listagem numerada das tabelas astrais.

Dizem os mitos, repetem as lendas e refazem as histórias contadas pela nossa imaginação criativa haver alguns corpos celestiais mais famosos do que outros. Dizem terem sido postos no firmamento por vontade das sucessivas gerações de deuses, titãs e numes cósmicos, como resultado das suas lutas sem tréguas pelo domínio das forças telúricas da natureza.

Dizem as teogonias helénico-romanas ser Arcturo, Arcturus ou Arturo (gr. Arctorus,  «guardião do urso») o Pastor que ajuda com os seus dois cães a Ursa Maior e a Menor a circundar o polo boreal. É bom pensar que à falta dum santo de primeira grandeza a assinalar o meu nome, fico com a estrela mais brilhante da constelação do Boieiro a fazê-lo. Uau!

5 comentários:

  1. Interessantes conjecturas míticas a pautar estes dias sem norte, Prof.! Seria bom que Arturo com os seus dois cães conseguisse guiar as nossas estrelas, que tão perdidas estão...

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    1. Estrelas cadentes muitas delas ou nebulosas, quasares ou verdadeiros buracos negros, apostados a levar tudo atrás de si e arrastar-nos com elas definitivamente para um vazio sem remissão à vista...

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  2. Teresa Salvado de Sousa20 de novembro de 2021 às 18:08

    Que lindo texto, Artur! E que escolha principesca - saber se preferes o rei da Távola Redonda ou a estrela cintilante.

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    1. Entre uma lenda bretã e um mito helénico, a escolha é difícil. O melhor é ficar com os dois...

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  3. Que bem, que interessante relação, gostei mesmo.
    Boa noite, Artur.

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