Filipe Lobo, Vista do Mosteiro e Praia de Belém (1657) [Museu Nacional de Arte Antiga - Lisboa] |
O convencionalismo dos nomes
Quando os historiadores de arte encetaram em plena era romântica a árdua tarefa de rastrear os diversos estilos da arte europeia, depararam-se com o insólito instalado nas margens ribeirinhas do Tejo. Ao olharem para a imponência do mosteiro de Santa Maria de Belém, observaram como a verticalidade teocêntrica medieval se transformara numa horizontalidade antropocêntrica moderna. À falta duma designação adequada, Francisco Adolfo de Varnhagen, o visconde brasileiro de origem luso-alemã, batizou em 1842 o novo modo estético de Emanuelino depois simplificado para Manuelino. A etiqueta caiu no goto e criou raízes. Até hoje.
A boa estrela do Venturoso descartou as hipóteses alternativas de nomear a extravagância exótica do panteão real dos Avis-Beja de gótico ou renascentista, já que se situava na fronteira cronológica desses dois períodos histórico-culturais que coroaram os Séculos de Ouro nacionais. Os especialistas encartados da criatividade artística podiam ter optado por rótulos taxonómicos mais conformes com a gramática decorativa dos monumentos evocativos da descoberta portuguesa do mundo. Estilo Oceânico, Atlântico, Marítimo da Arte Lusitana. Por exemplo. Até se podia chamar com toda a justiça de Leonorino, simplificado, quiçá, para Leonino.
Vistos bem os factos, esta ideia peregrina até teria pernas para andar. Basta-nos perguntar se sem a ação de D. Leonor de Lencas-tre, o duque de Viseu e Beja teria sido rei de Portugal. A ascensão de D. Manuel I ao trono da Esfera Armilar e Cruz de Cristo nunca se teria concretizado sem o pulso firme da irmã, a Princesa Perfeitís-sima. A questão dinástica foi resolvida pela fundadora da Misericór-dia de Lisboa e Hospital das Caldas de Óbidos. É na igreja de Nossa Senhora do Pópulo da vila da rainha que a fase protomanue-lina do estilo/arte se inicia e que não seria despropositado rebatizar de protoleonino. Convenção por convenção...
Que texto interessante e bastante curioso, no que à onomástica dos estilos arquitetónicos, mas não só, diz respeito.
ResponderEliminarUma feliz lição de arte e história!
ResponderEliminarProf., espero bem ver este riquíssimos textos publicados em livro, para apoio a estudantes e lição a leigos.