COMEMORAÇÕES DO TERCEIRO CENTENÁRIO DO LANÇAMENTO DA 1ª PEDRA DA BASÍLICA DO PALÁCIO NACIONAL DE MAFRA |
JOSÉ SARAMAGO
Memorial do Convento
(1982)
«Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento. Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes. Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido. Era uma vez...»
(Contracapa da Editorial Caminho)
- «El-rei foi a Mafra escolher o sítio onde há de ser levantado o convento. Ficará neste alto a que chamam da Vela, daqui se vê o mar, correm águas abundantes e dulcíssimas para o futuro pomar e horta, que não hão de os franciscanos de cá ser menos que os cistercienses de Alcobaça em primores de cultivo, a S. Francisco de Assis lhe bastaria um ermo, mas esse era santo e está morto. Oremos.» (J.S, MdC. 1982: 86 )
- «...começou a constar em Mafra, e foi confirmado pelo vigário no sermão, que vinha el-rei a inaugurar a obra de raiz dos caboucos para cima, colocando com as suas reais mãos a primeira pedra. Primeiro se anunciou que seria aos tantos de outubro, mas não houve tempo para cavar os alicerces até à sua conveniência fundura, apesar de serem seiscentos os homens, apesar dos muitos tiros de pólvora que a todas as horas do dia vão atroando os ares, será então em novembro, meados dele, depois não pode ser, que já seria como de inverno, andar aí el-rei enterrado na lama até às ligas das pernas.» (J.S, MdC. 1982: 130 )
- «Ai o dia seguinte, passado que foi aquele novo susto de repetir-se a rajada do vento do mar, que sacudiu toda a geringonça, mas enfim, soprou e passou, ai o dia seguinte, retome-se a exclamação, dezassete de novembro deste ano da graça de mil setecentos e dezassete, aí se multiplicaram as pompas e as cerimónias no terreiro, logo às sete da manhã, frio de rachar, se achavam reunidos os párocos de todas as freguesias em redor, com os seus clérigos e muito povo, é forte presunção que tenha vindo desta ocasião o dizer, para uso dos séculos e das gazetas.» (J.S, MdC. 1982: 134 )
- «Foi a pedra principal benzida, a seguir a pedra segunda e a urna de jaspe, que todas três iriam ser enterradas nos alicerces, e depois foi tudo levado em procissão, de andor, dentro da urna os dinheiros do tempo, ouro, prata e cobre, umas medalhas, ouro, prata e cobre, e o pergaminho onde se lavrara o voto, deu a procissão uma volta inteira para mostrar-se ao povo que ajoelhava à passagem, e, tendo constantemente motivos para ajoelhar-se, ora a cruz, ora o patriarca, ora el-rei, ora os frades, ora os cónegos, já nem se levantava, bem poderemos escrever que estava muito povo de joelhos...» (J.S, MdC. 1982: 135 )
José Santa-Bárbara
Vontades. Uma Leitura de Memorial do Convento (2001)
A 17 de Novembro de 1717 - combinação auspiciosa de números - muito povo, como agora, de joelhos, já nem se levantava... Valha-nos a obra imponente e o romance impressonante de Saramago! Feliz registo, Prof.!
ResponderEliminarData de 1987, o ano de aquisição deste romance, deve ser cá em casa o livro mais manuseado, primeiro o leitor, o meu marido. Nunca mais deixou de falar dele a toda a gente interessada ou nem por isso. Eu tentei por 2 ou 3 vezes iniciar a sua leitura, mas desisti sempre. Teimosa que sou hei de lá voltar. Depois foram os filhos, para a escola, a mais nova é que adorou a história, era vê-la trocar impressões com o pai. Grande obra, pelo menos cá por casa...
ResponderEliminarUma crítica mordaz à História de Portugal e mais interessante ainda para quem, ao lê-la, tenha conhecimentos sobre esse período histórico. Uma verdadeira obra-prima da literatura portuguesa.
ResponderEliminar