25 de janeiro de 2023

O olhar expressionista do Grito olhado à distância por Edvard Munch

Edvard Munch, Skrik (1893)
«En kveld jeg gikk langs en sti, var byen på den ene siden og fjorden nedenfor. Jeg følte meg sliten og syk. Jeg stoppet og så utover fjorden - solen gikk ned, og skyene ble blodrøde. Jeg kjente et skrik som gikk gjennom naturen; det virket for meg som jeg hørte skriket. Jeg malte dette bildet, malte skyene som faktisk blod. Fargen skrek. Dette ble til The Scream.»

O grito gritado no silêncio da tela pintada

Os olhares das obras de arte também se olham nas mais diversas cópias que delas se fazem. Livros, cartazes, postais, fotos, vídeos, cromos, litografias. O Skrik (= grito) de Edvard Munch, com o seu olhar esbugalhado, a boca aberta de espanto, as mãos coladas ao rosto, o corpo fremente de terror, a figura tresloucada representada num por do sol vermelho fantasmagórico olha e é olhado em quatro salas distintas que eu nunca olhei em nenhum dos seus habitats atuais, três em Oslo e uma não se sabe muito bem onde. Talvez um dia ainda consiga olhar face a face esse olhar expressionista no Munchmuseet ou na Nasjonalmuseet da capital norueguesa.

Lanço um olhar real aos quatro gritos virtuais exibidos dezenas de páginas públicas da Net. Nenhum deles se arrisca a ser roubado ou leiloado como os originais. Todos os podem olhar no mero ecrã dum PC. Ouvir onde e quando se queira o grito silencioso que os olhos de quem olha ouve. Grito contido que provoca o vómito, a náusea, a repulsa, o nojo, o enjoo, a agonia que o panorama televisivo, político, religioso, social, educativo, hospitalar hoje nos brinda dia após dia. Vantagem de não se expor num museu aos olhares anónimos dos visitantes, de se ser solidário com o ser solitário pintado no quadro, olhá-lo com os olhos nos olhos e poder gritar a plenos pulmões.


QUATRO GRITOS
1.
 
Museu Munch, 18932. Galeria Nacional, 1893; 3. Coleção particular, 1895; 4. Museu Munch, 1910

EPÍGRAFE
«Certa noite, caminhava por uma trilha, a cidade estava de um lado e o fiorde abaixo. Senti-me cansado e doente. Parei e olhei para o fiorde - o sol estava a por-se e as nuvens estavam a ficar vermelhas como sangue. Senti um grito que atravessou a natureza; pareceu-me ter ouvido o grito. Pintei esta imagem, pintei as nuvens como sangue real. A cor gritou. Isso se tornou O Grito.»
Edvard Munch, Diário (Nice, 1892)

1 comentário:

  1. O que nos vale é a RTP2 com os seus programas culturais, para não termos de vivenciar continuamente um grito de revolta e de rejeição... Ontem à noite, a reportagem sobre Edvard Munch envolveu-nos na angústia existencial da sua vida e obra extraordinária, a que assistimos com admiração, agradecendo especialmente O Grito da vida que nos legou.

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