Carta de Juan de la Cosa «Juan de la cosa la hizo en el puerto de S: mã en año de 1500» |
Unida na diversidade, assim reza a divisa da UE, registada nas línguas oficiais dos países que lhe dão corpo. Em todo o espaço comunitário se festejam as principais datas do calendário cristão, mas cada um dos seus membros guarda a prerrogativa de o celebrar de modo especial. Atravessamos a raia portuguesa, e a multiplicidade de práticas ancestrais diferentes das nossas invadem-nos a cada momento. Testemunhei algumas dessas singularidades hispânicas, quando passei parte da quadra natalícia de 73/74 nos antigos reinos de Castela e Leão, com um especial realce para a importância ali dada à visita dos três Magos do Oriente ao recém nascido Menino Jesus em Belém da Nazaré.
Para a criançada, o momento crucial do Natal espanhol coincide com a chegada de Gaspar, Baltazar e Belchior carregados de presentes a distribuir por cada um dos membros da família. Tudo começa a 5 de janeiro à tarde, quando as principais vias das cidades se enchem com um grande desfile de boas vindas aos reais visitantes. Depois todos regressam a casa para uma ceia especial, no final da qual sucederá a noite mais longa do ano. Na manhã seguinte, a correria faz-se em direção ao local onde na véspera deixaram os sapatinhos à espera das ofertas que Suas Majestades ali terão deixado. O final das fiestas navideñas é então vivido com toda a pompa e circunstância devida.
Não cheguei a assistir à Cabalgata de Reys. A essa hora andava a cabalgar num Seat azul claro de não sei quantos cavalos e nenhum camelo entre Burgos e Salamanca. Participei todavia nesta cidade numa merienda familiar em Dia de Reis. Vi uma mesa cheia de turrones, hojaldres, mazapanes, mantecados y polvorones. Todos aqueles doces que dificilmente exibiríamos entre nós num 6 de janeiro, sem direito a feriado ou distribuição de prendas Fica-nos a tradição do bolo-rei ou rainha acompanhado dum cálice de vinho do porto. Ficou-me a memória o globo de navidad que um dos niños presentes me ofereceu a troco de lhe ter improvisado um cântico de natal português. Memória longínqua, memória presente. Só me esqueci do que terei cantado então.
TURRONES, HOJALDRES, MAZAPANES, MANTECADOS Y POLVORONES |
Uma feliz recordação, Artur! Tanto viajar por Espanha e nunca passei lá o Dia dos Reis... No final do ano em Burgos, a mesa foi inundada desses doces tipicamente espanhóis. Honestamente, senti falta dos nossos, mais doces e gulosos.
ResponderEliminarPara tudo é necessário uma aprendizagem para se chegar ao hábito. Ter alguém, por exemplo, que nos ensine a amassar os «polvorones» antes de retirar o papel protetor que os envolve. 😋 De seguida, é como o slogan que Fernando Pessoa inventou para a coca-cola: primeiro estranha-se, depois entranha-se...
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