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Frida Kahlo, Árbol de familia, 1936 «Mis abuelos, mis padres y yo» [MoMA - Museum of Modern Art à New York] |
Παῦροι γάρ τοι παῖδες ὁμοῖοι πατρὶ πέλονται,οἱ πλέονες κακίους, παῦροι δέ τε πατρὸς ἀρείους.[Poucos são os filhos semelhantes aos pais:a maior parte são piores; só raros são melhores.]Homero, Odisseia (II, 276-277)
Dia dos Avós: Dia dos Pais & Dia dos Netos...
Avô és, neto foste. Esta máxima aplica-se também, mutatis mutandi, à geração intermédia. Pai és, filho foste. Gostaria de trocar o foste pelo és, mas, na parte que me toca, a forma verbal pretérita há muito que substituiu a forma verbal presente. Os fados, o destino, a sina, a fortuna ou o que quer que seja que mede a distância entre o alfa [α] e ómega [ω] cumpriu inexoravelmente o seu percurso, o tal a que o alvedrio humano é sempre vencido pelo determinismo cósmico.
Os meus avós paternos só conheceram os cinco filhos que geraram e, mesmo assim, muito brevemente. Dos oito netos que tiveram o primogénito nasceu após a morte dos dois. O meu pai perdeu a mãe aos dois anos e o pai aos nove. Foi criado pelas irmãs mais velhas e depois internado num colégio. A memória que tinha dos pais era muito escassa e foi essa que nos transmitiu a mim e ao meu irmão. Viviam das terras onde tinham nascido e onde viriam a morrer.
Os meus avós maternos oram mais bafejados. Conheceram a única filha que tiveram e os dois netos que esta lhes deu. Destes, a minha memória é muito fértil, embora distante de décadas no tempo. As palavras que diria a seu respeito não caberiam neste lugar tão justo de espaços e linhas. Desfrutei a sua companhia até à adolescência e mais seria se a raiz, tronco e copo da árvore da vida assim tivesse querido. Ficaram os frutos mais próximos para contar como foi.
No dia dos avós, gostava de os ter aos quatro aqui comigo. Guardo duns e doutros os apelidos de família transmitidos por via varonil de pais a filhos. Seguindo a práxis ancestral injusta que deixa de fora os sobrenomes maternos, também já fiz o mesmo com as minhas filhas e neto. Um legado tradicional que promete dilatar-se por uma geração mais. Vão-se as gentes ficam os nomes cuja origem se perde num tempo remoto onde a memória de quem os usa não chega.
A nossa geração cultivou o convívio com os seus antecessores enquanto a vida o permitiu, no cumprimento das regras que o sentimento e o dever nos impunham, tanto com os avôs, como com os pais - os avôs dos nossos filhos, a quem ensinámos como cumprir esse dever.
ResponderEliminarNão conheci os avôs, apenas as avós. O avô paterno faleceu aos 28, deixando o meu pai com 8 meses mas com o feliz legado de uma inteligência viva. O avô materno emigrou aos 17 para a Argentina, nem a minha mãe o conheceu, dele guardando eterna mágoa. Mas as avós viveram até tarde e o convívio com elas foi próximo enquanto possível, guardando eu de cada uma memórias vivas. Os meus pais tiveram a sorte de ter um neto e 8 netas e, embora não tivessem conhecido todas pessoalmente por viverem noutros países, o convívio foi sendo fomentado...
Numa era de telecomunicações tão desenvolvidas, é inconcebível a falha de comunicação entre gerações. O determinismo humano cumpre a sua função mas, na geração dos nossos filhos, o cordão umbilical sofre um corte abrupto que nos deixa perplexos. Os psicólogos defendem-lhes o direito à vida independente dos pais, mas não lhes salientam a humanidade da continuidade das relações. Erros meus, má fortuna... nada pode justificar o isolamento a que a nossa geração, os velhotes da terceira idade, tem sido votado, quando conscientemente demos o melhor de nós para investir no seu presente e no seu futuro. Os apelidos da família, entretanto, vão ficando pelo caminho... tal e qual como o convívio com os nossos filhos. Quem tem melhor sorte, que a boa fortuna não falhe até que a vida cumpra o seu ciclo. (As nossas vidas são autênticas novelas...)
A falta de comunicação intergeracional é um flagelo dos nossos dias e nem sequer é necessário viver em países diferentes. Não me posso queixar muito, mas, mesmo assim, gostaria que a observação de Homero fizesse o meu neto melhor do que o avô terá sido e que guarde dele as mesmas memórias agradáveis que eu guardo dos meus avós.
EliminarO riso é pelas palavras de Homero. Também só conheci ( que me lembre) a minha avó materna.
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