16 de fevereiro de 2015

Histórias bélicas do reino da Dinamarca

Copenhaga | København
flip&flap - By TAP

O radicalismo terrorista chegou a Copenhaga num sábado em que se defendia pacificamente a «Arte, blasfémia e liberdade de expressão». A homenagem que a Dinamarca dedicava aos jornalistas do Charlie Hebdo terminou em tiroteio. O povo mais feliz da Europa vestiu-se de luto pela morte dum cidadão comum que participava num debate organizado pelo cartoonista sueco Lars Vilks. A ocorrência foi transmitida pelos mass media globais como manda o figurino nestas ocasiões. Com menos alarido, é verdade, que o criado em torno da carnificina de Paris. É que a capital da torre Eiffel sempre foi mais visível do que a capital da Sereiazinha.

História sombria a contrastar com as histórias coloridas associadas ao país dos contos de Andersen e das construções Lego de Kris-tiansen. O país que detém uma das mais extensas zonas pedonais do mundo, uma das mais altas percentagens de bicicleta por habitante e uma das mais funcionais redes de transporte à escala planetária. O país onde se pode ver a rainha num supermercado, o príncipe herdeiro a guiar um trator e um ministro a viajar em 2.ª classe. O país em que se pode fazer um piquenique num kirkegård sem nos apercebermos tratar-se dum cemitério. Falo do que vi e calo o que ouvi dizer. Partilho o que o diário-de-bordo da memória registou.

Na minha primeira visita ao reino assisti ao desmaio dum soldadinho no render da guarda. Os 30º C fizeram-no derreter dentro da farda de gala. Nesse ano fui convidado para uma festa de aniversário dinamarquesa. Fui surpreendido pela miudagem de pistolas de fulminantes em punho a saltar por cima dos sofás perante a natural apatia de todos. Disseram-me que se fossem violentos em criança seriam pacíficos em adultos. A exceção à regra comprovou-se este fim de semana. O assaltante radical de nome árabe nasceu, cresceu e viveu 22 anos no reino de sua majestade florida Margarida II. Há coisas que a pedagogia viking atual precisa rever.

2 comentários:

  1. Infelizmente, o radicalismo ameaçou o mundo inteiro e a semente foi plantada em mentes distorcidas, já que sabemos que a violência não resolve nada. Há anos que a Dinamarca tinha sido ameaçada, há anos que a violência estala de vez em quando em bairros periféricos por razões múltiplas. A Dinamarca sempre foi muito tolerante, nomeadamente com exigências de comunidades islâmicas que pretendem impor os seus hábitos, como em ginásios e escolas, por exemplo. Nos dez anos em que tive a sorte de dar lá uma saltada de vez em quando, fui informada sobre estas questões diárias, que agora se manifestaram da forma mais violenta, que é tirar a vida ao semelhante por razões extremistas. A minha reação quando ouvi repetidamente as notícias foi de desgosto, como ser humano que sou, pelo que nem as partilhei. Além disso, as notícias sobre a morte brutal dos cristãos coptas, num mar de sangue que nos sufoca só de ver as imagens, assim como as renovadas ameaças agressivas aos judeus em diversos países europeus, deixam-nos ainda mais estupefactos sobre a nova barbárie que agride a nossa vida em pleno séc. XXI! O passado foi escrito com muito sangue, mas todos os povos participaram em determinada altura, pelo que a violência não deveria ser reescrita de nenhuma forma... A pedagogia dinamarquesa estará em cheque, mas infelizmente não será apenas nos países nórdicos que é posta em causa.

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  2. Um país por muitos considerado como um dos mais felizes e pacíficos do mundo, está agora abalado e tentando ainda digerir os acontecimentos, o mesmo acontecendo com os restantes europeus, porque os extremistas procuram sempre soluções extremas, radicais e revolucionárias para os problemas sociais. Estamos, de facto, vivendo um início de milénio bem conturbado.

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