Sir Edward Burne-Jones, Portrait of Katie Lewis |
KATIE LEWIS
Katie Lewis aprendera a ler sozinha, levada pelo rumorejar dos textos, pelo matiz das cores, uma por uma, ou dos arco-íris que se desprendem das histórias, que a empurram entontecida, uma após outra, na vontade ávida de saborear os livros...
Tinha quatro anos quando sir Edward Burne-Jones, pintor pré-rafaelita e amigo da família, começara a levar-lhe livros bem mais fascinantes do que aqueles que estavam nas estantes da biblioteca do pai, lugar que sempre lhe fora interdito, sem que ela alguma vez cumprisse essa proibição...
Katie, na verdade, nunca consegue saciar a sua sede de menina viciada pela leitura, corpo frágil a abandonar-se ao longo do comprido sofá dourado onde passa os dias, perto do qual Edward Burne-Jones, diante do cavalete que já ali ganhara o seu lugar, vai misturando com demora os óleos, as cores e as resinas, para a ir retratando na sua inquietude ambígua...
... a maçã vermelha esquecida, em risco de cair do sofá, afastada de uma das suas pernas cobertas pela saia marron, o cão branco-chumbo adormecido a seus pés, que ela cruza calçados de negro, meio encobertos e apoiados na grande almofada cor de fogo, quase idêntica àquela outra de chama mordida onde, de bruços, Katie mal roça a testa coberta pelos cabelos que se soltaram dos ganchos e das travessas de tartaruga...
Maria Teresa Horta, Meninas (2014)
Gostei muito do trecho tirado de "Meninas" de Maria Teresa Horta. Encantou-me!
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