Maria Helena Vieira da Silva, História trágico-marítima ou O naufrágio, 1944 |
Naufrágios
Continuam a naufragar argonautas anónimos dos nossos dias nas águas tépidas do mar Mediterrâneo, o Mare Nostrum latino, o maior mar interior de águas salgadas do mundo, um mar entre terras, berço de culturas e civilizações milenares, espaço privilegiado de contacto de povos oriundos de três continentes.
Os imigrantes clandestinos dos nossos dias naufragados nas rotas da morte abrem telejornais e preenchem as primeiras páginas dos jornais, com imagens em movimento dinâmico de filme ou estático de foto, testemunho mudo de dramas alheios, de flashes de desespero, de fugas massivas à guerra, à miséria, ao caos.
Os comentadores dos mass media falam em desastre, genocídio, tragédia, causados por traficantes, terroristas, esclavagistas, palavras muito fortes com um poder muito fraco para explicar os 700 vítimas dum só dia, a juntar à 900 do primeiro trimestre do ano ou dos 300 das últimas notícias ao minuto da NET.
Os números são assustadores e deixam a perder de vista as histórias trágico-marítimas dos naufrágios cantados nas páginas das epopeias de helenos, latinos e lusitanos, heróis com nome registado na memória das gentes e direito a panteão nacional, arautos duma gesta pretérita que não admite concorrências no porvir...
... e não se consegue acabar com estas histórias trágico-marítimas da actualidade ???
ResponderEliminarAndo atónita com toda esta realidade, um texto que ao fazer a ponte entre o passado e o presente, ainda mais atónita me deixa!
ResponderEliminarRealidade muito dura sem fim à vista.
ResponderEliminarBipolaridades das margem sul e norte do Mediterrâneo, os ricos que se queixam das crises da vida e os pobres que fogem a um morte certa em troca duma morte incerta...
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