IGREJA DE SANTA ENGRÁCIA - PANTEÃO NACIONAL [Ricardo Jorge Fidalgo] |
E aqueles que por obras valorosas | Se vão da lei da morte libertando...CAMÕES, Os Lusíadas (I, 22: 5-6)
Quando os homens criaram os deuses imortais à sua imagem e semelhança, transpuseram para esses seres superiores tudo aquilo que ansiavam possuir e não possuíam.
Tentaram depois iludir a sua condição humana e imaginaram os heróis, filhos dos deuses e dos homens, libertos da lei inexorável da morte pelas obras valorosas efetuadas em vida.
Construíram também grandes templos na terra para alojar os deuses celestiais, sempre que estes decidiam fazer-lhes uma visita inesperada de duração mais ou menos prolongada.
Edificaram mais tarde um templo único, destinado a juntar todos os deuses olímpicos num espaço digno da sua omnipotência, omnisciência e omnipresença a que chamaram panteão.
Nos nossos dias os filhos dos homens que morrendo ficaram na memória dos descendentes passaram, também eles, a ter direito a honras idênticas como se fossem os filhos dos deuses.
Os deuses do amor e da guerra, da vida e da morte, do tudo e do nada são substituídos pelos heróis dos versos e prosas, das fitas e fados, das leis e artes dignas da imortalidade.
Os deuses abandonam a casa que foi sua, na esperança vã de alcançar um dia a mortalidade divina dos homens, coroa de louros que há tanto anseiam possuir e não possuem.
Sempre me causou perplexidade a opção de homenagear quem se destacou em diversas atividades com a sua trasladação para o Panteão, símbolo de excelência. Mais valia que destinassem uma construção condigna para esse fim, afinal como de faz com o sepultamento no cemitério dos Prazeres. Génio é de uma têmpera superior a quem é especialmente dotado numa arte específica...
ResponderEliminarGosto bem mais de guardar os restos mortais dos deuses de carne e osso do que daqueles deuses que nunca foram constituídos da mesma massa do que eu.
ResponderEliminarUm belo texto, mais um Artur.
O Panteão era a casa de todos os «deuses» depois passou a ser a casa de todos os «heróis». Tanto uns como outros só entram na categoria dos «imortais» se os mantivermos vivos na memória. Os residentes dos diversos panteões portugueses resistem de modo diferente à permanência no tempo. Alguns até já começam a candidatar-se ao esquecimento continuado. A casa dos heróis portugueses oferece uma hospedagem «eterna» a celebridades de uma, duas ou gerações que as gerações seguintes talvez reconheçam ou não. Ninguém o pode prever. O tempo di-lo-á com o tempo que já não será o nosso tempo, o que, relativizando a incógnita, é perfeitamente irrelevante para os seres de carne e osso como nós ainda vamos sendo…
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