20 de julho de 2015

Os rankings do cicerone de Coimbra

DIPLOMA DA FUNDAÇÃO DO ESTUDO GERAL DE LISBOA
Leiria, 1 de março de 1290 - Dom Dinis
[Arquivo da Universidade de Coimbra]
Nos meus tempos de menino e moço, participei numa visita de estudo a Coimbra. O cicerone de serviço no Paço das Escolas forneceu-nos então um conjunto de dados estatísticos que me deixaram embasbacado durante toda a adolescência. Entre outros pormenores de menor monta, afirmou estarmos na mais antiga universidade do país e na quinta a nível mundial, logo a seguir às sediadas em Bolonha, Paris, Oxford e Salamanca.

Deixada a ingenuidade dos verdes anos, a que a gíria anglo-saxónica remete para a categoria dos teenagers, apercebi-me que o ranking então apresentado carecia de algum rigor histórico, sobretudo no que à realidade nacional se refere. O Estudo Geral de Lisboa foi criado por iniciativa d'el-rei D. Dinis, lavrada na carta Scientiæ thesaurus mirabili, assinada em Leiria a 1 de março de 1290 e ocupando a 16.ª posição nas suas congéneres europeias.

A certidão de nascimento do Estudo Geral de Coimbra remonta a 26 de fevereiro de 1308. Iniciava-se nessa data uma série de seis transferências/regressos dos Studium Generale entre as cidades do Tejo e do Mondego que só terminará na Lusa Atenas em 1537, já no reinado de D. João III. Durante dois séculos e meio, a corporação medieval portuguesa de estudantes comportou-se como uma verdadeira universidade vagabunda sem paralelo conhecido.

Decorridos 725 anos sobre a efeméride, o aniversário da fundação régia da primeira universidade portuguesa é celebrada com toda a pompa e circunstância pela segunda como se fosse a mais antiga do país. Faz-se tábua rasa dos documentos guardados nos arquivos nacionais e dá-se livre trânsito ao faz de conta que dá jeito a quem os segue e sanciona. Afinal o cicerone de Coimbra é que tinha razão de espalhar aos sete ventos a fantasia do seu ranking académico.

2 comentários:

  1. Tive uma ótima professora de História no Maria Amália, que nos referenciou esta mudança frequente da universidade entre Coimbra e Lisboa. Já não me recordava de pormenores de datas, pelo que é bem oportuno o teu esclarecimento. A bem da história da nação portuguesa, convenhamos!

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  2. Cristina Ramos Horta24 de julho de 2015 às 13:20

    Gostei do texto. Temos uma tendência de considerarmos determinadas instituições, monumentos, como o 1.º ou o melhor do mundo. Acontece com o Hospital Termal das Caldas. Mas as fontes documentais vêm esclarecer os " rankings" .

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