Pedi
 emprestado
 a
 um
 quadro
 atribuído
 a
 Josefa
 de Óbidos
 (
c. 1634
-1684)
 a
 imagem
 dum
 marmelo seiscentista
, idêntico
 em
 tudo
 aos
 que
 então
 serviriam
 às
 religiosas
 do
 mosteiro
 de
 Odivelas
 para confeci-onar
 a mais reputada marmelada da doçaria conventual portuguesa. A fama alcançada no seu tempo chegou até aos nossos dias, pelo que terá a sua quota-parte de verdade assegurada.
É pouco provável que a infanta Catarina de Bragança (1638-1705) tenha levado consigo para a corte de Carlos II Stuart uma reserva desse fruto acabado de colher ou transformado em compota. Já terá bastado à nova rainha consorte da Inglaterra, Escócia e Irlanda (1662-1685) ter-se feito acompanhar do precioso chá de Ceilão com que inaugurou entre os britânicos a tradição do
 five o'clock tea.
 
O que parece ser uma certeza é que nas merendas reais haveria uma citrinada de laranja amarga e uns bolos em forma de coroa. A compota virara 
marmalade pelos súbditos britânicos nos tempos em que Henrique VIII recebera uns boiões de marmelada portuguesa. Palavra vai, palavra vem, a soberana lusitana converteria os 
cakes em queques. O equilíbrio vocabular ficava assim estabelecido.
  | 
QUEQUE
Um cake em forma de coroa...
 | 
 
Acabei de ler no fb, na página de " portugueses no mundo", esta citação que em minha opinião se enquadra lindamente neste texto:
ResponderEliminar" O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo."
Fernando Pessoa
Receitas conventuais que foram também religiosamente levadas para as terras de além-mar onde os portugueses se estabeleceram. Não me esqueço nunca da imagem de uma tia-avó a confeccionar a marmelada com arte e capricho. Foi uma bela conjugação de sabores e costumes, a marmelada com os queques, que tão bem sabem igualmente com a citrinada de laranja amarga num pequeno almoço... ou chá das cinco.
ResponderEliminar