13 de março de 2017

Queques & Marmelada

JOSEFA DE ÓBIDOS

«Natureza morta - um marmelo»

Palavras vão, palavras vêm... 

Pedi emprestado a um quadro atribuído a Josefa de Óbidos (c1634-1684) a imagem dum marmelo seiscentista, idêntico em tudo aos que então serviriam às religiosas do mosteiro de Odivelas para confeci-onar a mais reputada marmelada da doçaria conventual portuguesa. A fama alcançada no seu tempo chegou até aos nossos dias, pelo que terá a sua quota-parte de verdade assegurada.

É pouco provável que a infanta Catarina de Bragança (1638-1705) tenha levado consigo para a corte de Carlos II Stuart uma reserva desse fruto acabado de colher ou transformado em compota. Já terá bastado à nova rainha consorte da Inglaterra, Escócia e Irlanda (1662-1685) ter-se feito acompanhar do precioso chá de Ceilão com que inaugurou entre os britânicos a tradição do five o'clock tea.

O que parece ser uma certeza é que nas merendas reais haveria uma citrinada de laranja amarga e uns bolos em forma de coroa. A compota virara marmalade pelos súbditos britânicos nos tempos em que Henrique VIII recebera uns boiões de marmelada portuguesa. Palavra vai, palavra vem, a soberana lusitana converteria os cakes em queques. O equilíbrio vocabular ficava assim estabelecido.

QUEQUE

Um cake em forma de coroa...

2 comentários:

  1. Acabei de ler no fb, na página de " portugueses no mundo", esta citação que em minha opinião se enquadra lindamente neste texto:
    " O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo."
    Fernando Pessoa

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  2. Receitas conventuais que foram também religiosamente levadas para as terras de além-mar onde os portugueses se estabeleceram. Não me esqueço nunca da imagem de uma tia-avó a confeccionar a marmelada com arte e capricho. Foi uma bela conjugação de sabores e costumes, a marmelada com os queques, que tão bem sabem igualmente com a citrinada de laranja amarga num pequeno almoço... ou chá das cinco.

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