La xocolatadaPainel de azulejos - 1710[Museu del Disseny de Barcelona] |
As tardes da sedutora de anjos, poetas e heróis...
Agora é na companhia de Catarina que Leonor amaina as angústias, expõe as dúvidas e, discutindo, reacende a criatividade. Em tardes demoradas com a amiga na pequena sala de trabalho tépida da casa desta na Luz, enquanto bebem licores ou chá de rosas-da-china, tocam saltério e recitam versos, a escutarem as confidências uma da outra, histórias contadas entre risos e palavras segredadas que lhes põem um brilho incendiado nos olhares. Leonor fala-lhe dos medos e dos sonhos entrelaçados, atados uns aos outros pelo mesmo laço de faltas, ausências e perplexidades, que num acinte lhe invadem as noites em claro.
Catarina fuma cigarros furtivos que faz com cuidado, a envolver, rolando e enrolando, o tabaco nas mortalhas quase transparentes. Às vezes passa-os a Leonor, que se os aceita, a quebrar hábitos e ditames da sua educação, logo se arrepende; não por ter infringido as regras ditadas pelo Marquês de Alorna seu pai, mas porque os cigarros lhe deixam a saliva grossa, e na boca um gosto toldado, um sabor a tédio e a equívoco que até então desconhecera.
Tenta amenizar a náusea, trincando amêndoas e chocolate, que tira dos pratos de cristal dispostos nas mesinhas de pau-santo, ao lado das taças por onde bebem o espumante. Às vezes leem poemas em voz alta, ou dormitam um tudo-nada.
Muito ao de leve, como fazem os pássaros…
Um excerto lúdico, do muito que foi a vida e obra de Leonor, Marquesa de Alorna.
ResponderEliminarLeonor das Luzes de Maria Teresa Horta, um dos livros da minha vida.
Um texto delicioso, de cumplicidades, sonhos e sabores, a despertar mais o interesse pelo livro...
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