7 de novembro de 2018

As Romas imperiais de Rómulo e Remo, de Constantino Magno e dos Romanov

       MOSCOVIA VRBS METROPOLIS TOTIUS RUSSIÆ ALBÆ      

Georg Braun & Frans Hogenberg - Civitates Orbis Terrarum - Cologne, 1617

ROMA
Rezam as lendas que a Roma Antiga terá sido fundada no Palatino por Rómulo e Remo, os dois irmãos gémeos aleitados por uma loba e descendentes remotos de Eneias, herói troiano que Virgílio cantou na Eneida (séc. I AEC). A data simbólica escolhida por Marco Terêncio Varrão para celebrar o Dias Natali Romæ recaiu a 21 de abril de 753 AEC, por coincidir com as festividades pastoris de Pales. As sete colinas iniciais estenderam rapidamente o seu domínio por toda a bacia mediterrânica, que batizaram de Mare Nostrum. A queda da cidade deu-se a 4 de setembro de 476 EC, quando o imperador Rómulo Augústulo foi destronado por Odoacro em Ravena. O Império Romano do Ocidente dava origem ao Império Romano do Oriente. A Idade Antiga cedia passo à Idade Média. Roma sobreviveria por mais mil anos em Constantinopla, no Corno de Ouro, banhada pelas duas margens do Mar de Mármara.

CONSTANTINOPLA
A Nova Roma, Bizâncio, Constantinopla ou Istambul foi erigida por Constantino-o-Grande em 330 EC. A dimensão desmedida para a época do território aconselhou-o a estabelecer uma segunda capital a Oriente, na confluência da Europa e da Ásia, facilitando-lhe assim o acesso às fronteiras do Danúbio e do Eufrates. A administração e milícia  foram reestruturadas, o latim foi substituído pelo grego e o politeísmo romano cedeu passo à ortodoxia cristã. Os alicerces da România ou Império Bizantino estavam concluídos. Dizem as más línguas que nas vésperas da conquista otomana, em 29 de maio de 1453, os seguidores do Basileu discutiam a quantia que deveriam despender com a defesa da cidade, sem terem chegado a um consenso salvador. Será talvez esta a versão mais apropriada para designar a tal querela centrada na determinação do sexo dos anjos e que a memória dos povos crismou de bizantinice.

MOSCOVO
A Terceira Roma nasceu do prestígio que Roma e Constantinopla exerceram nos senhores de Moscóvia. O título imperial de Cæsar deriva de Júlio César, que passa a ser utilizado no Império Russo para designar o soberano ou Czar. Como se tal não bastasse, a dinastia reinante adotou o nome de Romanov, por se considerar descendente do ditador e general romano, cuja linha genealógica fictícia foi tacitamente traçada e dada como factual. Essa titulação manteve-se até à queda da monarquia e Revolução de Outubro de 1917*. Os herdeiros da tradição latino-bizantina foram destronados e posteriormente executados. Moscovo continua imponente a governar milhões de cidadãos distribuídos pela Eurásia sem ter originado uma Quarta Roma. Os imperadores de antanho são parra que já deu uva e os novíssimos senhores do mundo passaram a exercer o poder por processos tais que nem a Maquiavel lembraria.

NOTA
(*) - Revolução de Outubro: 25 de novembro de 1917 (calendário juliano); 7 de novembro de 2017 (calendário gregoriano). 


4 comentários:

  1. Muito interessante. A história insiste em repetir-se.

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  2. Histórias que o ser humano vai tecendo ao longo dos séculos, transmitindo os mesmos erros que parecem não ser lição fácil de aprender já que o poder continua a manifestar a sua cegueira...

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  3. Já no passado se "desunhavam" uns aos outros para terem uma Roma superior. A inveja ainda hoje está presente em muitas situações e acaba como no antigamente, a fomentar guerras.

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    1. O persistente braço-de-ferro entre a Guerra & Paz. Que o segundo termo se imponha nestes tempos conturbados que vivemos. A UE tem conseguido mantê-la nas mais de seis décadas de existência. Que assim continue sem a necessidade de criar uma Quarta Roma sediada em Bruxelas...

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