13 de novembro de 2018

Os talantes de benfazer do Infante de Sagres e os talentos de os realizar...

Emblemática do Infante Dom Henrique
GOMES EANES DE ZURARA (c. 1410-1474?)
 «Frontispício» da Crónica dos feitos da Guiné (1453)
[Paris: Bibliothèque nationale de France - Ms. Portugais 41, 5v]
A CABEÇA DO GRIFO: O INFANTE D. HENRIQUE
Em seu trono entre o brilho das esferas, | Com seu manto de noite e solidão, | Tem aos pés o mar novo e as mortas eras — | O único imperador que tem, deveras, | O globo mundo em sua mão.
Fernando Pessoa, Mensagem (1934: I, v, 1)
     Talant de biẽ faire    

Dom Henrique é sem grande margem de dúvida o mais popular representante da Ínclita Geração de Altos Infantes, cantada por Luís de Camões n'Os Lusíadas (1572: IV, 50, 8), sendo também uma das figuras nacionais mais conhecidas além-fronteira. O Navegador lhe chamaram os historiadores alemães no Séc. XIX. Mais pelo fo-mento das viagens de descoberta de novas terras e novas gentes do que pelas travessias que tenha feito do Mar Oceano. Ter-se-á limitado a cruzar umas quantas vezes o estreito guardado pelas Colunas de Hércules e sempre que necessário o Mar da Palha formado pelas águas calmas do Tejo.

O quarto filho varão de Dom João Primeiro e de Dona Filipa de Lencastre, os fundadores da Dinastia de Avis, escolheu como alma da divisa o Talant de bien faire [= desejo de benfazer]. Terá sido inspi-rado pela cultura angevina da mãe, descendente dos Plantegenêt, que levaram para os domínios ingleses o francês como língua de corte. Pintou o emblema de azul, branco e negro, a simbolizar as fron-teiras infinitas do tudo e do nada. Associou esta paleta cromática ao verde dos ramos de carrasqueiro entrelaçados num anel, a apontar para a força generosa e invencível que permite a comunicação entre o céu e a terra.           

Essa ânsia de cometer grandes proezas foi largamente realizado ao longo da vida associando a palavra algo rara de talante com a mais comum nos nossos dias de talento ou capacidade de realização. Agraciado pelo pai com o título de Duque de Viseu, seria ainda Senhor da Covilhã, Donatário da Madeira, Mestre da Ordem de Cristo, Governador de Ceuta, Cavaleiro da Ordem da Jarreteira e Protetor da Universidade de Lisboa. Entre outras honrarias, avulta a de Infante de Sagres, promontorium sacrum do Reino do Algarve onde expirou a 13 de novembro de 1460. O mote da sua divisa pes-soal cumpria-se à letra.

2 comentários:

  1. Muito curioso. Apesar de ser o mais popular dos filhos, todos eles se distinguiram de uma forma ou de outra. Gostei.

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  2. Uma homenagem louvável ao grande talento na arte de bem descobrir novos mundos a mundo!

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