Jeanette, Soy Rebelde Tour 2023 T-Shirt |
«Yo soy rebelde | porque el mundo me ha hecho así | porque nadie me ha tratado con amor | porque nadie me ha querido nunca oír. | Yo soy rebelde | porque siempre sin razón | me negaron todo aquello que pedí | y me dieron solamente incomprensión || y quisiera ser como el niño aquel | como el hombre aquel que es feliz | y quisiera dar lo que hay en mi | todo a cambio de una amistad | y soñar | y vivir | y olvidar el rencor | y cantar | y reir | y sentir solo amor.»Manuel Alejandro, Soy rebelde (1971)
Ecos lejanos de La Inglesita...
No início da década de 70, falhei umas apetecíveis férias de verão em Conil de la Frontera, uma estação balnear andaluza da Costa de la Luz, a dois passos de Cádiz e Gibraltar. O Botas de Santa Comba acabara de esticar o pernil há cerca dum ano, mas a perpetuação do anquilosado império colonial português teimava em manter-se de pé e à custa de muitos balões de oxigénio, ministrados cirurgicamente em três frentes africanas de combate antiguerrilha independentista. A maioridade estava às portas e de mãos dadas com o serviço militar obrigatório, a impedirem-me de cruzar as estremas do Caia e rumar decididamente até às águas cálidas do sul ibérico.
Nesses tempos de espera prolongada por uma mudança que tardava a chegar, seguia com apreensão contida o evoluir da situação pouco invejada do tal jardim à beira-mar plantado. De Espanha não vinham nem bons ventos nem bons casamentos. Não vinha em bom rigor absolutamente nada. Os dois eviternos rivais de glórias perdidas no passado viviam de costas voltadas como se ignorassem a existência efetiva do outro. Um encontro recente numa estância termal alterara de modo radical as minhas ideias feitas e batidas sobre a realidade vivida do lado de lá da raia. Fiz amigos perenes naquele ambiente sulfuroso de águas mornas e conversas calorosas.
Dias vêm, dias vão, salta-se à vez do lazer para o quefazer. Os meus ócios/negócios de estudante na grande cidade resumiam-se então a muito pouco. Omito-os. Recebi nesses dias uma lembrança dos meus amigos das termas com quem estabelecera um contacto que dura até hoje. Um disco que ocupava à data os tops musicais de vendas. Um sencillo 45rpm da desconhecidíssima Jeanette. Na Cara A do vinil, La Inglesita rendida à cultura espanhola interpretava uma muita juvenil Soy rebelde (1971). Como recado subliminar escreviam-me desde a margem interdita do além Caia que, de vez em quando, urgia exercer o direito capital a uma certa e acertada à rebeldia.
Quando voltei ao convívio adiado dos meus amigos em terras outrora vedadas, a fama efémera da jovem londrina radicada na pele de touro peninsular já se perdera há muito na espuma dos dias. Os acordes das rebeldias adolescentes com que fora lançada permaneceram todavia gravados na memória coletiva das gentes. As palavras entoadas pela cantante hispano-britânica mantêm-se teimosamente no ar, de pedra e cal, sem darem o menor sinal de cair e a justificarem a realização dum world tour comemorativo do 50.º aniversário da sua criação. Mistério análogo à fugaz existência das estrelas-cadentes. Surgem, brilham, morrem e renascem viçosas no ano seguinte.