Dom Sebastião (c. 1571-1574) Cristóvão de Morais [Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga] |
Olhem para mim! ‒ parece dizer-nos Dom Sebastião (1554-1578) ‒, sou rei desde os 3 anos de idade e, mais dia menos dia, vou ser imperador do mundo. Portugal e Algarves d'Aquém e d'Além-Mar em África não me chegam como reinos há muito herdados pela Graça de Deus. Os Senhorios da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia são só o início dum Quinto Império que a dimensão dos territórios antanho dominados por Assírios, Persas, Gregos e Romanos nunca alcançaram.
Olhem-no, como eu o estou a olhar agora! ‒ diz-nos o galgo de caça d'O Desejado, muito compenetrado do seu papel ‒, o derradeiro Cavaleiro-Cruzado da Cristandade a terras da Moirama já está de espada em punho e de armadura engalanado. Levar-me-á com ele ou estou aqui só como figura de decoração num quadro de aparato maneirista. Olho-o e quase lhe beijo a mão, mas o olhar majestático do meu soberano já está virado para outros horizontes distantes, onde o olhar dum canis lupus familiaris não seria muito bem olhada.
Olhem-no, pronto para partir para Marrocos! ‒ sugere-nos o olhar artístico de Cristóvão Morais, ao retratar a meio corpo O Encoberto na flor da idade, que nunca chegou a abandonar, teria então 17 anos (ou talvez 20) e finar-se-ia ingloriamente no campo de batalha de Alcácer-Quibir aos 24 anos. O bisneto por partida dupla, a materna e a paterna, de Dom Manuel Primeiro, não regressaria vivo de Marrocos, à procura duma grandeza sonhada, logo convertida em pesadelo para todos aqueles que seguiram e lhe sobreviveram.
O olhar enigmático e distante do único monarca lusitano morto a terçar armas continua a olhar-nos como uma das joias maiores expostas destacadamente no Museu de Arte Antiga de Lisboa, ali mesmo às Janelas Verdes. Diz-se também que o seu corpo remido se encontra sepultado no Convento de Santa Maria de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos, num túmulo monumental, mas, aí, o seu olhar real não se deixa olhar por ninguém. Só o podemos imaginar com algum esforço, com o poder dos mitos e contramitos nos concedem.
Gosto demais desta tela e sinto pena/tristeza pelo seu trágico destino…
ResponderEliminarMegalomania trágica do rei Desejado por uns e Encoberto por outros...
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