«En la Antigüedad clásica, el Ágora y el Foro, al aire libre o bajo los pórticos, fueron los espacios de encuentro y sociabilidad de los habi-tantes de las ciudades griegas y romanas. Desde la Edad Media eu-ropea, las Plazas Mayores desempeãron un papel semejante. | Em la Edad Moderna y Contemporánea los Cafés ocuparon el puesto de los anteriores espacios urbanos abiertos al público en general.»
Antonio Bonet Correa, «Prólogo» (2014)
George Steiner, com toda a mestria que lhe é reconhecida, apresenta em A ideia de Europa (2004) cinco axiomas que, a seu ver, definem o velho continente: o café, a paisagem, a toponímia, a herança greco-judaica e o sentido de fim. Refere poetas, estadistas, filósofos, cien-tistas, políticos, artistas, militares e escritores que frequentaram os espaços públicos, onde se pode tomar uma bebida quente e conver-sar com os amigos; que percorreram a pé os caminhos traçados entre cidades, aldeias ou simples lugarejos, erigidos à dimensão humana por sucessivas gerações de viajantes; que deram o nome a ruas, praças, avenidas e calçadas, preservando assim a memória futura; que inscreveram no seu destino de unidade e diversidade consentida uma matriz cultural fundada nas cidades de Atenas e Jerusalém; que desenvolveram uma consciência do seu final e dos modos de inverter esse sentido de vulnerabilidade trágica.
A ideia primeira de Europa, identificada pelo pensador anglo-franco-americano de origem judaico-vienense, é retomada explicitamente pelo investigador galego com uma profunda formação cultural lusitana Fernando Franjo e aplicada à restrita cartografia peninsular dos Cafés históricos de España y Portugal (2014). Entre uns e outros, perpassa toda uma gama de possibilidades de tomar essa bebida divina inventada pelos homens para rivalizar com o mais delicado néctar dos deuses. Visitá-los religiosamente a todos abriu uma nova era de peregrinações pelos novos caminhos peninsulares de Santiago, sem ter de sair duma mesma cidade. Confraternizar com Bocage no Nicola do Rossio, com Saramago no Martinho da Arcada, com Pessoa na Brasileira do Chiado. Comer depois um pastel de nata em Belém ou uma fatia de bolo rei na Nacional. Tudo isto em Lisboa. A acompanhar, a bica curta, o carioca ou o abatanado.
A rede das catedrais ibéricas de beber café é extensa e não se esgota na meia centena de lugares de culto arrolada nas páginas dum livro. As descrições históricas são preciosas e as imagens substituem mil vezes o que fica por dizer com palavras. Apetece-me referir o L'Opera de Barcelona, o La Campana de Sevilha, o Magestic do Porto e o Santa Cruz de Coimbra. Conheço-os a todos muito bem e a alguns mais que não cabe aqui registar. Que se veja o guia com devoção e se preencham as lacunas inevitáveis. Convoco porém o Aliança de Faro, um dos mais antigos do país, encerrado há cinco anos pela ASAE. Guerras de alecrim e manjerona que nos impedem de conviver com a memória de Marguerite Yourcenar e Simone de Beauvoir ou de Fernando Pessoa e António Aleixo que por ali passaram. O tal fim previsto por Steiner que urge impedir de andar à solta por aí. Em nome dos cafés e da nossa identidade cultural.
O lento fechamento dos cafés é também uma forma de cada um se ir fechando sobre si mesmo. Isso não augura nada de bom, a menos que comecemos a considerar que estes ambientes e plataformas electrónicas acabam por ser os novos cafés, o que também será uma forma de aliviar a nossa consciência pouco dada à sociabilidade.
ResponderEliminarUma interessante peregrinação pela cultura com cheiro a café de Portugal e Espanha! Em novembro passado, a agenda cultural de Lisboa chamava a atenção para cinco belos cafés de Lisboa, o que me incentivou a passear pelas ruas alfacinhas e a parar em alguns deles onde se inscreveu o nome de pessoas e fernandos, assim como de pintores e arquitetos, que levaram longe o nome de Portugal. Sabe bem retemperar forças em locais onde a simpatia convida ao diálogo, enquanto o nosso olhar admira o ambiente que nos recorda os agradáveis costumes de antanho e de sempre. Que o café Aliança de Faro consiga reabrir portas pois a memória dos renomados que citas é um valor importante que se acrescentou às suas paredes antigas!
ResponderEliminarTantas histórias à volta de um café e tantos cafés com história. No Porto o mais antigo e com histórias antigas, é um monumento à história, Magestic...
ResponderEliminarDando continuidade à expressão de Ernestina Santos "levei o cheirinho a café e a cultura", é importante relembrar e preservar na memória esses cafés como espaços frequentados por intelectuais da época e pelo património histórico-social que representam, mas não podemos esquecer também o café enquanto bebida, que estimula o convívio, o debate, facilita a comunicação e abre portas à troca de ideias. De catedrais ibéricas de servir café, frequentadas apenas por elites, passámos aos vulgares cafés frequentados por todos. E um cafezinho é sempre um pretexto para um encontro...
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