Vieira da Silva, A poesia está na rua I & II (1975) [Fundação Calouste Gulbenkian] |
POEMA UM DIA
Um dia, os rapazes serão louvados. Hão de passar entre multidões floridas. Levarão riso na boca e os braços levantados.
Um dia os rapazes hão de ser punidos. Pelos males que hão de vir dos quatro pontos cardeais. Terão latrinas derramadas nos portais.
Um dia esses heróis serão esquecidos. Os seus nomes alinhados entre conchas e espinhas. Hão de constar de uns livros nunca lidos.
Mas um dia, este dia, será o dia do idílio. Os rapazes ainda não desistiram de soltar os braços dos escravos. E os escravos ainda não renegaram a cor dos cravos. Ainda estamos no princípio desse dia.
Lídia Jorge, Os memoráveis (2014: 283-284)
Melodia memorável na harmonia das palavras! Uma surpresa bem agradável este poema de Lídia Jorge, que sabe envolver como poucos as palavras em música!...
ResponderEliminarE uma harmonia luminosa da pintura de Vieira da Silva com as palavras musicais de Lídia Jorge! Uma combinação perfeita!
ResponderEliminarNo romance, as quatro estrofes são atribuídas a um dos memoráveis fotografado no Memories que as compusera no verão quente de 75. Poeta de profissão, deixou o poema inédito 30 anos, por considerá-lo medianamente sofrível. Só o recita à narradora-protagonista a instâncias da mulher, também ela poeta memorável fotografada no Memories. Pessoalmente, sou menos rigoroso para com a criação poética versificada por Lídia Jorge n’ «Os memoráveis» (2014), 40 anos após a revolução de abril. Musical consideraria eu também as palavras que encontrou para celebra esse dia memorável que Maria Helena Vieira da Silva iluminou com aquela harmonia luminosa que tão bem cultivava…
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