SALA DAS PEGAS
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Existe no paço real de Sintra um teto de madeira decorado com 136 pegas. Seguram numa pata uma rosa vermelha e no bico uma tarja com a frase «Por Bem». A imagem associa num único emblema o corpo e a alma das divisas reais de D. Filipa de Lencastre e de D. João I de Portugal. Diz-se por aí que o fundador da dinastia de Avis, aquele a quem a história deu o cognome de O de Boa Memória, teria sido apanhado a beijar uma aia da mulher. Tê-lo-ia feito por bem. Afirmou. A desculpa terá sido depois repetida por todas as damas da corte. Tantas quantas as mandadas pintadas pela rainha na sala onde o petit affaire amoroso do rei terá decorrido. O episódio parece ter inspirado a soberana, que não se inibiu de escolher como lema pessoal a declaração algo provocatória de «Il me plaît».
Acontece que a esposa amantíssima do Mestre de Avis, a educadora da Ínclita Geração de Infantes, a filha do poderoso João de Gante, era também neta de Eduardo III de Inglaterra, de quem se conta uma história semelhante, protagonizada por si e pela condessa de Salisbúria. Segundo se diz, esta terá perdido a sua liga azul durante um baile. O rei apressou-se a recolocá-la no devido lugar e a responder aos sorrisos de cumplicidade consentida dos nobres: «Honi soit qui mal y pense». No dia seguinte, terá fundado a Ordem da Jarreteira, a mais antiga e prestigiada do sistema de honras britânico. A frase tornou-se proverbial, transformando-se num dos lemas do país, com direito a ser estampada na bandeira, a par do «Dieu et mon droit», como brasão de armas do Reino Unido.
Acrescentemos uma terceira história igualmente exemplar. Contam os anais oficiais que Filipe III da Borgonha, dito O Bom, criou em Bruges a Ordem do Tosão de Ouro, por ocasião do seu casamento com a infanta D. Isabel de Portugal, filha de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, bisneta, portanto, de Eduardo III de Inglaterra. Oficialmente, tê-lo-á feito em homenagem à Virgem Maria e a Santo André, com a divisa «Pretium laborum non vile». Tudo muito inócuo até ao momento. Todavia, dizem as más línguas habituais que o duque, ao olhar para o carneiro de ouro no colo da mulher morena, se lembraria dos caracóis louros da amante flamenga. Calúnias. Está mais que visto, que Plantagenetas, Avises e Borgonhas não podem ser tidos como gente de poucas vergonhas.
Que belas histórias!
ResponderEliminarExiste igualmente uma sala no paço real de Sintra, a sala dos brasões, onde existe o brasão dos Aboim, o primeiro João Peres de Aboim, terá sido o mordomo-mor do D. Afonso III. Histórias giras...
E a sala dos 27 cisnes, mandada pintar por D. João I em homenagem à idade da filha, a infanta D. Isabel de Portugal, quando se casou com o duque Filipe da Borgonha...
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