Second Life Marketplace |
Em tempos pretéritos, a Valentim de Carvalho teve uma pequena loja de discos e livros no Forum Algarve de Faro. Na primeira vez que lá entrei, pedi ao jovem vendedor de serviço um qualquer título de Lídia Jorge acabado de publicar. Esqueci-me do nome. Talvez uma coletânea de contos. Respondeu-me, com toda a educação que o part time lhe exigia, não venderem música brasileira. A ignorância, de facto, é muito atrevida. Explicar que se tratava da mais prestigiada escritora algarvia do momento, com obra traduzida para algumas dezenas de línguas, premiada dentro e fora das fronteiras nacionais, pareceu-me completamente irrelevante. Desci as escadas rolantes do primeiro andar e dirigi-me à livraria Bertrand do rés-do-chão. O meu pedido foi de imediato atendido com eficácia e sem perguntas suplementares de permeio.
Este episódio veio-me à memória quando revi pela enésima vez num canal da TV-Cabo o filme americano de Nora Ephron, You've got mail (1998). Recordando o argumento, trata-se duma típica comédia romântica protagonizada por Tom Hanks e Meg Ryan, proprietários da Fox & Sons Books e da The Shop Around the Corner. É evidente que na luta travada entre uma megalivraria multinacional e uma microlivraria de virar da esquina, a astúcia proverbial da raposa derrotou sem dificuldade de maior a ingenuidade pueril do urso de peluche. Os grandes comem os pequenos. Escusado será dizer que, pouco antes de se esgotarem os 119 minutos de projeção da película, a reconciliação dos dois livreiros antagonistas é selada com o tal beijo cinéfilo obrigatório nestas circunstâncias e exigido pelo género. Está tudo dito.
Saltando por cima dos pormenores que conduzem ao happy end esperado desde o início da história, destaco uma única cena. O não menos jovem funcionário de serviço à secção infantil do novo megastore instalado no bairro sente-se impotente para satisfazer o pedido duma cliente. Esta pretendia um livro para crianças que falava de sapatinhos de ballet. Bloqueio completo do vendedor. Afinal, tratava-se tão somente do Ballet Shoes (1936), o título inaugural da série infantil Shoes, imaginada pela escritora inglesa Noel Streatfeild, mundialmente conhecida no âmbito da literatura infantil. Felizmente que a ex-proprietária da minilivraria falida estava presente para esclarecer as dúvidas e satisfazer a cliente. A lição da fábula é que a sócia dum urso de peluche instruído vale bem mais do que o escravo duma qualquer raposa delambida.
Saltando por cima dos pormenores que conduzem ao happy end esperado desde o início da história, destaco uma única cena. O não menos jovem funcionário de serviço à secção infantil do novo megastore instalado no bairro sente-se impotente para satisfazer o pedido duma cliente. Esta pretendia um livro para crianças que falava de sapatinhos de ballet. Bloqueio completo do vendedor. Afinal, tratava-se tão somente do Ballet Shoes (1936), o título inaugural da série infantil Shoes, imaginada pela escritora inglesa Noel Streatfeild, mundialmente conhecida no âmbito da literatura infantil. Felizmente que a ex-proprietária da minilivraria falida estava presente para esclarecer as dúvidas e satisfazer a cliente. A lição da fábula é que a sócia dum urso de peluche instruído vale bem mais do que o escravo duma qualquer raposa delambida.
Aqui dentro estão muitas horas de puro prazer...
ResponderEliminarJá vi o filme, mais que uma vez também, talvez pela mensagem positiva que transmite, para nos deixar acreditar que nem tudo está perdido neste mundo globalizante. Admira-me teres resistido a explicar ao ignorante quem é Lídia Jorge, pois eu faria como a personagem "urso de peluche"...
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