Avelino Araújo, Apartheid Soneto (1988) |
O PODER DO POVO
Clístenes é tido como o pai da democracia helénica, ao estabelecer em 508-507AEC, na capital da Ática, a primeira experiência da história. O regime político então inaugurado estava centrado na capacidade do «povo» (δῆμος - demos) exercer o «poder» (κράτος - kratos). Encalhava, todavia, no facto de só incluir os homens, filhos de pai e mãe atenienses, livres e maiores de 21 anos. Excluídos ficavam os estrangeiros, escravos e mulheres de todas as idades. Numa altura em que a população de Atenas rondava os 200/400 mil habitantes, a cidadania democrática só era reconhecida a uma elite de cerca de 30/60 mil pessoas, i.e., 15% da população.
O PODER DAS CASTAS
A implementação do novo sistema de governo tem sido morosa. Passados mais de 2600 anos, ainda é desconhecido em grande parte deste nosso mundo de liberdades condicionadas. Surgiu ultimamente entre nós a ideia de que a democracia é para todos mas só pode ser exercida por alguns. Os iluminados pelas normas rígidas e imutáveis da tradição. Os seguidores de dogmas passados de geração em geração sem mais prova autêntica de veracidade do que a sua observação. A guerra entre filhos e enteados. O destro divino contra o sinistro diabólico. Apartheids políticos que a razão da «cidade» (πόλις - pólis) se encarregará de derrubar.
Antanho, como hoje, o poder do povo nas mãos de uns poucos que o exploram e que não sabem o que é democracia. Interessante análise, Prof.!
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