José Malhoa, Festejando o São Martinho (1907) [Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado] |
No dia de São Martinho, come-se castanhas e bebe-se vinho...Provérbio popular
Corria o ano de 1504, quando Gil Vicente representou para a rainha D. Leonor de Lencastre o Auto de São Martinho. Tudo se pas-sou durante as festividades do Corpus Christi, provavelmente antes da procissão ter saído da igreja de Nossa Senhora do Pópulo, anexa ao hospital termal que a soberana fundara nas Caldas. A história sobejamente conhecida de todos foi contada em poucas palavras, porque, como confessa o dramaturgo na didascália final, a obra de devoção católica fora pedida muito tarde. Em onze oitavas decas-silábicas, repartidas por duas cenas, o Pobre lamenta-se da sua sorte de indigente e solicita a Martinho esmola, que reparte com o pedinte metade da sua capa. Tudo isto em castelhano, a língua de corte dos Avis-Beja durante pelo menos três quartos de século.
A lenda/milagre terá ocorrido em meados de novembro, altura em que os derradeiros calores estivais começam a ser rendidos pelos primeiros frios outonais. Meia estação conhecida por Verão de São Martinho. Para celebrar essa mudança gradual de temperaturas, costuma celebrar-se o magusto com castanhas assadas regadas com vinho novo ou água-pé. José Malhoa representou uma dessas festanças pagãs em honra de Dioniso-Baco, numa tela pintada a óleo em 1907. A popularidade que granjeou na época manteve-se intacta até aos nossos dias. Os excessos realistas documentados no quadro levaram a ser conhecido alternativamente como Os bêbados. Título adequado para descrever com uma imagem aquilo que as tais mil palavras seriam incapazes de traduzir cabalmente.
Uma festa pagã que foi motivo para relembrar, neste registo digno, Gil Vicente e Malhoa, dois portugueses ilustres que o bom povo, infelizmente, nem deve conhecer apesar de aderir em massa a estes excessos...
ResponderEliminarDois flashes caldenses, com o dramaturgo que fez representar o auto na igreja do hospital da rainha, e com o pintor água-morna que representou um magusto celebrado à maneira estremenha.
ResponderEliminarUma história velhinha sempre contada todos os Outonos da minha meninice na escola primária.
ResponderEliminar