20 de novembro de 2015

Piqueniques, memórias & Internet


RELÓGIO FUNDIDO

Dalí, La persistència de la memòria (1931)
[NY - Museum of Modern Art - MoMA]
Sempre nutri uma simpatia muito especial por piqueniques. Esse gosto deve ter raízes nas aventuras dos famosos cinco que ocuparam as minhas leituras de quase teenager, logo imitados com afinco pela primalhada em tempo de férias no pinhal grande da praia da Areia Branca. Saltando para um tempo mais maduro, recordo um desses convívios de grupo na serra de Sintra com um punhado de colegas e amigos em final de formação académica na grande cidade. O encanto efémero dessa tarde levou-nos a marcar um encontro para dali a uns quantos anos naquele mesmo local. Esqueci-me do combinado e não compareci. Duvido que alguém se tenha lembrado de o fazer. Nem sequer posso confirmar a suspeita, porque lhes perdi completamente o rasto.

Muitos piqueniques passados, voltei ao convívio dalguns colegas de liceu através do mundo virtual da Internet. Pistas perdidas achadas por acaso nas navegações cegas pela blogosfera e redes sociais. Fotos a preto e branco recuperadas pela persistência da memória a saltarem na janela indiscreta do PC doméstico. Os contactos e a atualização de episódios pretéritos foram imediatos. Exumámos das sombras as merendas da quinta-feira da espiga, nas matas das Caldas da Rainha, e as petiscadas do santo chouriço, no adro da ermida de Santo Antão em Óbidos. Tudo ao ar livre. Depois o assunto esgotou-se, o dito e redito instalou-se e os posts findaram de vez. Inexoravelmente. Ficaram os votos rituais de parabéns e de boas festas nas páginas do Facebook.

Voltei a cruzar-me com um rosto perdido há muito no tempo. O MySpace foi o mediador de serviço para fazer a ponte entre dois pontos singulares de devir existencial. Já nos conectámos online e trouxemos a jusante fragmentos das memórias formadas a montante. Trivialidades. Qualquer dia ainda lhe falo duma merienda celebrada com toda a pandilla da altura numa praia fluvial do Tejo espanhol. Provavelmente deixarei este flash com entorno internacional vogar sem destino definido pela Net à escala global. Esperarei que a mensagem chegue ao computador do meu amigo de juventude. Duvido. Os acasos não se fazem por encomenda. Deixariam de o ser. A menos que o insólito entre abruptamente em cena e me venha surpreender. Ya lo veremos...

2 comentários:

  1. Piqueniques na infância aconteciam sempre após a manhâ passada numa das praias na linha de Cascais.
    Já adulta e mãe, sempre que iamos à praia na linha da Arrábida, após a manhã na praia, faziamos sempre um piquenique na mata. Já aqui na Madeira, os piquenique não têm faltado ao longo dos 20 anos que já levamos nesta terra...

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  2. Os melhores momentos da minha infância e juventude, o dos piqueniques, embora ainda ocorra um de vez em quando. Em Cabo Verde, juntavam-se as famílias amigas e organizavam-se festas deliciosas ao ar livre, fora da cidade, fosse no Monte Verde, na Ribeira de Julião, na Baía das Gatas ou a praia da Matiota. Nestes últimos casos, a apanha de mariscos ainda servia para nos servirem deliciosos arroz com lapas ou mexilhõe, fresquinhos da silva nas rochas banhadas pelo mar. A cantaloria começava nos autocarros ou carrinhas ou carros que nos levavam, soltos como o vento, para os locais de paródia, onde o violão, concertina e companhia limitada faziam o deleite de gente pequena e grande. Nunca me esquecerei ainda dos piqueniques em férias, na ilha que me viu nascer, Santo Antão, onde naquele tempo se brincava ainda à luz da lua e das estrelas, em bandos enormes de irmãos e primos.
    Em Lisboa, menina e moça trazida do meu país natal, eram frequentes os piqueniques em Monsanto, na Costa da Caparica e locais que visitávamos levados pelo meu pai, sempre ávido de nos mostrar o que o mundo tinha de bonito, de Coimbra a Braga, da Arrábida a Setúbal, etc...
    Bela lufada de ar fresco me trouxeste agora, Prof., nesta noite fria de Dezembro à porta!

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