Aquel día había cumplido yo los quince años...
Martín Vigil, La vida sale al encuentro (1961)
Caprichos do acaso fizeram-me tropeçar há dias com um libro de bolsillo que ocupou uma posição cimeira numa fase crucial da minha formação pessoal, aquela que promoveu a passagem penosa da adolescência para o estado adulto pleno. Lera-o a pedido duma amiga muito especial com o compromisso de lhe dar depois a minha opinião sincera. Assim fiz sem pestanejar.
Segui atentamente o relato que o jesuíta Martín Vigil preparara, em La vida sale al encuentro (1961), para um público juvenil moldado, até à medula, pela matriz judaico-cristã nos tempos áureos do regime franquista predominante na piele de toro espanhola. A ideologia político-religiosa então vigente transpira em cada sílaba, palavra e frase documentadas. Naturalmente.
Voltei a visitar o palco do drama vivido no início dos anos sessenta pelos protagonistas da ficção. A um contexto histórico-cultural em que ainda se escreviam cartas, se enviavam telegramas ou se recorria ao telefone fixo para comunicar. Os discos de vinil eram reproduzidos em pick-ups, ouvia-se rádio, ignorava-se a televisão e ia-se ao cinema de bairro nos fins de semana.
Em meados do século passado, as gentes não conheciam os iPhone, iPod, iPad, iMac e outras engenhocas em i (ai). Essas gentes estavam longe de imaginar os Laptop, Tablet, MP3, Notebook, Smartphone, dos nossos dias. Nem sequer imaginavam que um dia houvesse a Internet e se socializasse pelo Facebook, Twitter, Instagram, Google+, MySpace, Badoo e quejandos.
Os autores passam, os leitores vão-e-vêm, os livros ficam. No mundo real dos factos acontecidos, nasce-se, vive-se e morre-se uma única vez. No mundo virtual dos factos imaginados, nasce-se, vive-se e morre-se uma infinidade de vezes. Essa a diferença básica entre a vida vivida pelas pessoas concretas de carne e osso e a vida vivida pelas personagens abstratas de papel e tinta.
O novelista morreu esquecido de todos. A novela continua a esgotar edições. A juventude a que se destinava foi substituída por outras. Imparavelmente. A história autobiográfica de Iñaki, o herói, prossegue a sua missão de despertar em cada um dos seus confidentes a magia incontornável dos 15 anos. A identificação com essa fase de amadurecimento não deixará ninguém indiferente.
A etiqueta literatura juvenil é uma convenção ancorada nos temas centrais convocados pela escrita. Amor e morte, presença/ausência de fé, riso e choro, tudo e nada. O sonho e o pesadelo extremam-se. A dúvida instala-se e a incerteza impõe-se. Inexoravelmente. Os livros envelhecem. As leituras rejuvenescem-nos. Depois, as aprendizagens acontecem e a vida vem ao nosso encontro.
Os livros que li na minha juventude eram emprestados à sucapa por uma colega da escola cujos irmãos, mais velhos já trabalhavam, e possuiam uma simpática biblioteca. O único senão é que só gostavam de livros cujo o tema fosse o Holocausto. Li tudo ou quase tudo o que foi editado em português na altura, sobre nazismo, campos de concentração, perseguição dos nazis, etc. Depois havia os romances sul- americanos...
ResponderEliminarSocapa
EliminarGanhei o hábito de leitura muito cedo e como na altura as bibliotecas pessoais eram muito reduzidas, acabei por recorrer às públicas e às dos amigos. Na altura era pouco exigente nos géneros escolhidos. Tudo o que vinha à rede era peixe. Assim fui ganhando uma visão muito abrangente sobre os universos da escrita. A seleção surgiria mais tarde mas isso já ultrapassa as fronteiras habitualmente tidas como delimitadoras da juventude e das idades do mundo de adulto que se lhe seguiram…
ResponderEliminarEste não conheci, mas muitos livros de aventura me passaram pelas mãos quando jovem, a par de novos testamentos e romances, sendo os autores mais lidos o Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett, Jorge Amado, Érico Veríssimo... Leituras qye ainda hoje gosto de revisitar pelo prazer de me sentir a menina romântica e ingénua de então.
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