Giotto di Bondone, Adorazione dei Magi (c. 1303-1305) [Cappella degli Scrovegni, Padova] |
Segundo se julga saber, deve-se a São Francisco de Assis a criação do primeiro presépio. A encenação natalícia ocorreu no já longínquo ano de 1223 e contou com o acordo papal de Honório III. O drama litúrgico foi representado numa gruta da floresta de Grécio e integrado numa missa especial, rezada na presença da imagem do Menino Jesus deitado num berço revestido de feno e ladeado pelas imagens da Virgem Maria e de São José. Para completar o cenário, foram levados para ali um jumento e um boi verdadeiros. A recriação anual do nascimento do Messias Salvador acabava de ser instituída, atravessaria o milénio e chegaria até aos nossos dias.
Artistas e artesãos deram-lhe vida em figuras pintadas, desenhadas e esculpidas, expostas em museus nacionais de todo o mundo e nas casas da gente anónima um pouco por todo o lado. A lenda local dada à luz num recanto perdido da Terra Santa transformar-se-ia, com o decorrer dos tempos, num mito global que abraça os cinco continentes habitados pelos seres humanos, devotos ou não das diversas interpretações da fé Cristã. Cada cor seu paladar. Os interpretes do presépio franciscano multiplicaram-se, o estábulo abriu-se ao exterior e os caminhos de areia traçados num chão de musgo chegarem até ao castelo dos Reis Magos.
Olhando com atenção para essas reconstituições do mistério da encarnação, até nos esquecemos da fragilidade dos dados factuais a ele associados e dos constantes desmentidos proferidos pelos registos históricos que até nós chegaram. A pragmática prosaica da realidade raras vezes dá as mãos à fantasia poética da imaginação. As temperaturas negativas que se fazem sentir nas montanhas de Belém aconselhariam os progenitores do recém-nascido a protegê-lo um pouco melhor dos frios invernais do último mês do ano. A menos que o parto sagrado se tenha dado noutra altura ou noutro espaço. As hipóteses alternativas são mais do que muitas.
A fixação do Natal a 25 de dezembro parece estar ligada ao culto ro-mano do Sol Invictus, cujo nascimento se festejava nesse dia. Com a conversão de Constantino ao Cristianismo em 313, a substituição duma divindade por outro efetuou-se de imediato, passando Jesus de Nazaré a ser o verdadeira resplendor invencível. E assim ficou até hoje no rito católico predominante entre nós. Data em que a luz do dia começa a aumentar após o solstício de inverno e o renascimento do astro-rei se iniciava. Momento simbólico de desejar as boas-festas à vida renovada, independentemente o nome que lhe outorguemos e dos sentidos religiosos que lhe agreguemos.
As tuas revisitações históricas com sabor simbólico, decorrentes de alterações para versões que interessam aos poderes instituídos, são bem sugestivas. Aproveite-se então a história do presépio para desejar aos homens de boa vontade as boas festas e que a vida se renove porque a que deixamos atrás tem sido desgastante nos últimos tempos...
ResponderEliminarFaz hoje oito dias que fizemos uma visita guiada à Casa-Museu Frederico de Freitas, Funchal, lá , pelo décimo ano (desconhecia) organizarão uma exposição de caixas de presépio, altares com Meninos de Jesus em escadinhas, peças dos séc. XVII, XVIII e XIX, muito belas e curiosas, lá ouvi contar sobre o início dos presépios, como começou a utilização dos reis magos, como eram no início: um personagem novo, um maduro e um idoso e como mais tarde a igreja, resolveu fazer representar um personagem dos três continentes que se conheciam na época. Aprendi coisas muito interessantes.
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