25 de março de 2016

Voyage à bord du Sud-Express...

Affiche -  Sud Express - Forum Léo Ferré 

Em tempos que já lá vão, havia uma ligação por caminho de ferro entre Lisboa-Santa Apolónia e Paris-Austerlitz. Dava pelo nome pomposo de Sud-Express e debitava uma infinidade de tempo até chegar a Irún-Hendaye, estações fronteiriças onde se mudava de carruagem e ganhava uma maior velocidade até ao destino final escolhido. Utilizei duas vezes o seu percurso ibérico de ida-e-volta na segunda metade da década de 70. Férias de verão que me leva-ram depois de Bordéus até Rennes, ponto de partida privilegiado para iniciar uma série de visitas nunca concluídas à Bretanha. 

Recordo-me com alguma precisão das peripécias vividas na estreia. O atraso verificado em França foi de alguns minutos. O peninsular de 24 horas. Poucos turistas, muitos emigrantes. Toutes les places prises. Multiplamente vendidas algumas delas pelas agências de viagem. Vagão-restaurante fechado. Casas de banho imundas. Couchettes inexistentes. Ambiente folclórico de cassete-pirata. Pi-queniques improvisados com arroz de tomate, pastéis de bacalhau, frango assado, talhadas de melancia e melão, tudo regado com tinto bebido do garrafão. Alegria contagiante em final de vacances.

Posteriormente troquei o comboio pela automóvel. Outras regiões de l' Hexagone começaram a alternar com o Pays breton du Roi Arthur et armoricain d'Asterix le Gaulois. Agora faço-o de avião. Mais rápido, mais económico, mais prático. Menos divertido também. As valises de carton cederam paso às valises à roues. Opta-se pelo catering a bordo ou pelo fast-food nos aeroportos. Pizzas, hot dogs, hamburgers, coca-cola e cerveja em lata. Tudo entre o check-in e o check-out. Sinais dos tempos deste nosso mundo global. Pas  plus de charme, pas plus de burlesque, pas plus de fado.    

2 comentários:

  1. Acho natural esta nostalgia, que às vezes me assaltam também. Mas também se tira o máximo partido da maneira de viajar dos nossos dias, até porque me facilita conhecer regiões onde nunca chegaria dantes. Antigamente havia os pontos negativos, como bem lembra o texto...

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  2. Quando vivia em Lisboa e nos deslocávamos ao Algarve, no início das auto-estradas,utilizávamo-las. Mas, depois, voltamos a utilizar as estradas nacionais quer a litoral, quer aquela estrada que atravessava o Alentejo junto à raia. Isto para dizer, que por motivos profissionais ou urgentes, o progresso, ajuda. Mas,quando não temos pressa, andar de comboio, ou seguir por estradas "secundárias" é muito mais prazeroso.

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