"Think you're escaping and run into yourself. Longest way round is the shortest way home."James Joyce, Ulysses (1922)
Lisboa e Dublin serão, porventura, as duas capitais europeias mais ligadas a Odisseu, o herói maior da Grécia antiga e rei lendário de Ítaca. A primeira ainda hoje diz dever o nome clássico de Olisipo, Ulissipolis ou Ulisseia ao seu fundador epónimo, a segunda por ter criado uma odisseia moderna na sua malha urbana, toda ela decal-cada na marítima empreendida pelo inventor helénico do Cavalo de Troia. Casos paradigmáticos da criatividade literária transmitidas nas diversas modalidades épicas em verso e em prosa.
Regressei à companhia de Leopold Bloom, o pacato angariador de publicidade, o tal que James Joyce escolheu para protagonista do Ulisses (1922), uma das mais dissecadas ficções romanescas do século passado e cujas deambulações pela cidade no dia 16 de junho de 1904 dariam origem ao feriado do Bloomsday, celebrado anualmente na Irlanda e noutras partes do mundo. Fi-lo numa edição traduzida, prefaciada e anotada por João Palma-Ferreira, que me acompanha desde 2006, ano em que li pela primeira vez de fio a pavio as suas 844 páginas, distribuídas por três partes e 18 capítulos ou etapas literárias da peregrinação judaico-cristã da modernidade literária europeia. Tarefa árdua que me permitiu visitar nesse verão já longínquo o palco dos acontecimentos narrados com a bagagem recheada dos conhecimentos entretanto obtidos.
Apesar do título dado ao romance-epopeia, o antropónimo Ulisses só aparece registado quatro vezes em toda a malha discursiva, sem que haja mesmo assim uma relação direta detetável de causa-efeito entre essa figura temerária helénica e a desenhada no texto irlandês. Se quisermos encontrar similitudes estruturais concretas nos dois textos, teremos de exercer um esforço continuado e persistente para obter resultados satisfatórios que ultrapassem a mera coincidência da viagem. O melhor será recorrer ao quadro-esquema que James Joyce elaborou para chegarmos com algum sucesso às aventuras e desventuras desenvolvidas no poema homérico. Se nos apoiarmos nas palavras-chave ali apontadas como simples auxiliares de leitura, a aproximação anunciada à Odisseia lá se irá fazendo a pouco e pouco e sem percalços de maior.
Seguir as pisadas do ilustre caminhante joyciano pelas ruas e ruelas da sua cidade natal não é pera doce. Essa também a perceção do aedo moderno que lhe deu corpo, registada nos múltiplos escritos laterais que lhe dedicou. Considera esse complexo percurso labiríntico e sem rumo certo anunciado como a história dum dia que simboliza a própria vida, como um ciclo completo do corpo humano assente no epopeia de duas raças, a israelita e a irlandesa. Herói coletivo dum povo ou duma coletividade específica, com direito a ser cantada sem obedecer às regras restritas de metro e rima. Relato que depois duma visita atenta e integral se poderá sempre revisitar uma e outra vez em pequenas investidas parcelares. Não tenho nenhuma prevista para os próximos tempos, mas nunca é tarde para voltar aos locais já visitados uma ou outra ocasião, porque há sempre a possibilidade de nos depararmos com novas e surpreendentes descobertas.
Regressei à companhia de Leopold Bloom, o pacato angariador de publicidade, o tal que James Joyce escolheu para protagonista do Ulisses (1922), uma das mais dissecadas ficções romanescas do século passado e cujas deambulações pela cidade no dia 16 de junho de 1904 dariam origem ao feriado do Bloomsday, celebrado anualmente na Irlanda e noutras partes do mundo. Fi-lo numa edição traduzida, prefaciada e anotada por João Palma-Ferreira, que me acompanha desde 2006, ano em que li pela primeira vez de fio a pavio as suas 844 páginas, distribuídas por três partes e 18 capítulos ou etapas literárias da peregrinação judaico-cristã da modernidade literária europeia. Tarefa árdua que me permitiu visitar nesse verão já longínquo o palco dos acontecimentos narrados com a bagagem recheada dos conhecimentos entretanto obtidos.
Apesar do título dado ao romance-epopeia, o antropónimo Ulisses só aparece registado quatro vezes em toda a malha discursiva, sem que haja mesmo assim uma relação direta detetável de causa-efeito entre essa figura temerária helénica e a desenhada no texto irlandês. Se quisermos encontrar similitudes estruturais concretas nos dois textos, teremos de exercer um esforço continuado e persistente para obter resultados satisfatórios que ultrapassem a mera coincidência da viagem. O melhor será recorrer ao quadro-esquema que James Joyce elaborou para chegarmos com algum sucesso às aventuras e desventuras desenvolvidas no poema homérico. Se nos apoiarmos nas palavras-chave ali apontadas como simples auxiliares de leitura, a aproximação anunciada à Odisseia lá se irá fazendo a pouco e pouco e sem percalços de maior.
Seguir as pisadas do ilustre caminhante joyciano pelas ruas e ruelas da sua cidade natal não é pera doce. Essa também a perceção do aedo moderno que lhe deu corpo, registada nos múltiplos escritos laterais que lhe dedicou. Considera esse complexo percurso labiríntico e sem rumo certo anunciado como a história dum dia que simboliza a própria vida, como um ciclo completo do corpo humano assente no epopeia de duas raças, a israelita e a irlandesa. Herói coletivo dum povo ou duma coletividade específica, com direito a ser cantada sem obedecer às regras restritas de metro e rima. Relato que depois duma visita atenta e integral se poderá sempre revisitar uma e outra vez em pequenas investidas parcelares. Não tenho nenhuma prevista para os próximos tempos, mas nunca é tarde para voltar aos locais já visitados uma ou outra ocasião, porque há sempre a possibilidade de nos depararmos com novas e surpreendentes descobertas.
Um magnifico e orientador texto para uma aventura que se antecipa muito exigente.
ResponderEliminarJá o tenho, aguarda oportunidade para uma primeiríssima leitura!
A ganhar coragem para leitura Integral. Um dia será. Gostei muito de Dubliners.
ResponderEliminarEu acho que já não tenho idade para fazer sacrifícios! Pelos vistos também não os fiz quando devia... Fiz alguns, mas...
ResponderEliminarDei na Faculdade. Gostei e vou reler, assim como 'The Portrait of The Artist as a Young Man' do mesmo James Joyce e também muito bom.
ResponderEliminarÉ pá... p'ra essa é preciso fólego, e tempo!
ResponderEliminarGostei muito do seu texto que é dos numerosos 'clássicos' que mantenho em lista para ler. Infelizmente por vezes perco-me por outros caminhos e alguma coisa tem de ficar para trás...
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