Jan Steen,
The Village School (c. 1665)
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... Mais servira, se não fora | para tão longo amor tão curta a vida.Camões, Sete anos de pastor Jacob servia
Sem régua nem batuta...
Quando for grande quero ser professor para poder dar reguadas nos meninos. Depois cresci e acabei por ser professor sem poder bater nos meninos. Os castigos físicos tinham acabado. A criançada já não tinha de dar a mão à palmatória e conhecer a menina dos cinco olhos, já não podia sentir o toque cego do báculo pedagógico. Agora, passados os anos, diz-se por aí que a prática punitiva se inverteu e são os meninos que começam a agredir os professores. Tendências de moda com o habitual exagero das más-línguas à mistura.
Quando deixar de ter alunos ao redor vou começar a cantar. Meu dito meu feito. Afastei a ideia de cantar a solo e pus-me a cantar a vozes. Para trás ficaram as aulas de canto coral da infância com solfejos gaguejados e escalas maltratadas ao piano. Pobres teclas. Agora só toco as do portátil que as máquinas de escrever já eram. O canto veio ter até mim quando a docência se foi. A aprendizagem é longa e a vida curta. Os ensaios do coro são feitos de repetições. Canta-se e recanta-se até que pegue. Sem réguas nem batutas punitivas.
c d
Sete vidas tivesse para viver, sete vidas viveria, sete vezes e outras tantas ou mais ainda voltaria sempre, sem descanso, a tentar dar um sentido novo aos sentidos, qual sinfonia de cores, cocktail de sons, paleta de odores. Uma verdadeira sinfonia de sentidos com sentido. Gostos sinestésicos que não passam pelas papilas gustativas. Fica--me nesta vida que ainda me vai restando o tal gosto imperecível pelos livros impressos a cheirar a tinta. A musicalidade policromada das palavras contadas nas histórias acontecidas ou imaginadas.
Jean-Honoré Fragonard, La leçon de musique (1769)
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Passamos a vida a procurar um sentido para os nossos sentidos. Os estudos a que nos dedicámos desde crianças, o trabalho a que nos devotámos por gosto e dever, o lazer em que mergulhamos quando o tempo nos sobra e premeia... Enquanto isso, a vida segue o seu caminho. Com sentido, se a tal nos ajudar a sorte e a fortuna. Por mim, bem hajam os livros e os passeios que me continuam a ensinar o que é a vida.
ResponderEliminarO sentido da vida está mesmo nos sentidos que damos ao ato de sentir a cada momento, assim tenhamos a fortuna de encontrar aquele sentido dos sentidos que merece a pena sentir…
EliminarTão bom,o seu texto!
ResponderEliminarObrigada, pela partilha da experiência de vida antes e depois da arte de ensinar.
E entre uma e outra ou abrangendo as duas, a arte de aprender...
EliminarVidas vividas, ontem, hoje e amanhã, sempre diferentes nas acções, porque o mundo pula e avança mas nem sempre como uma bola colorida nas mãos de uma criança.
ResponderEliminarTemos de devolver as bolas coloridas às nossas crianças E levá-las de novo a brincar na rua em liberdade...
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