BANCHETTO: FESTA DELLA FAMIGLIA (c. 79EC)
«Nos iam ad triclinium perveneramus, in cuius parte prima procurator rationes accipiebat. Et quod praecipue miratus sum, in postibus triclinii fasces erant cum securibus fixi, quorum imam partem quasi embolum navis aeneum finiebat, in quo erat scriptum: "C. Pompeio Trimalchioni, seviro Augustali, Cinnamus dispensator". Sub eodem titulo et lucerna bilychnis de camera pendebat, et duae tabulae in utroque poste defixae, quarum altera, si bene memini, hoc habebat inscriptum: "III. et pridie kalendas Ianuarias C. noster foras cenat", altera lunae cursum stellarumque septem imagines pictas; et qui dies boni quique incommodi essent, distinguente bulla notabantur.»
Desapareceu mais uma livraria em Faro. Qualquer dia não há nenhu-ma. Esta pertencia às Publicações Europa-América que acabam de declarar insolvência. Uma dívida calculada em dois milhões de euros obrigou a casa fundada por Lyon de Castro em 1945 a fechar as portas que a ditadura de Salazar não conseguiu concretizar. Grande parte da minha biblioteca pessoal ostenta a chancela da editora foi escolhida de entre os 51 milhões de livros escritos por cerca de 1900 autores.
Foi aqui nesta pequena loja agora encerrada que adquiri em formato de bolso o Satyricon de Petrónio, composta por volta de 60 EC. A minha passagem pela Faculdade de Letras não me levou à leitura integral ou parcial da mais genuína obra de ficção satírica da literatura romana imperial do tempo de Nero. A descoberta foi feita através da versão filmada por Federico Fellini e estreada a nível global em 1969. No ano em que se celebra o centenário do nascimento do realizador italiano, apeteceu-me rever o filme e reler o livro. Foi o que fiz sem exitação.
No suporte escrito, desconhece-se o início e final das deambulções dos protagonistas. As lacunas de dimensão variada atravessam toda a obra. A sua reconstituição torna-se particularmente difícil ou mesmo impossível. Temos de nos contentar com os episódios que até nós chegaram. O homoerotismo campeia, afastando o modelo diegético latino definitivamente do helénico, que então iniciava o período áureo da sua existência literária já multissecular.
Nas imagens em movimento, a estratégia seguida foi mesmo a de completar o relato com a imaginação criativa do realizador. A estrutura romanesca primitiva mantém-se, sendo entretanto enriquecida com elementos estruturais que asseguram a unidade discursiva de toda a fábula. Assim funciona a Arte em toda a sua plenitude. Assim foi na Antiguidade. Assim é na Modernidade.
Foi aqui nesta pequena loja agora encerrada que adquiri em formato de bolso o Satyricon de Petrónio, composta por volta de 60 EC. A minha passagem pela Faculdade de Letras não me levou à leitura integral ou parcial da mais genuína obra de ficção satírica da literatura romana imperial do tempo de Nero. A descoberta foi feita através da versão filmada por Federico Fellini e estreada a nível global em 1969. No ano em que se celebra o centenário do nascimento do realizador italiano, apeteceu-me rever o filme e reler o livro. Foi o que fiz sem exitação.
No suporte escrito, desconhece-se o início e final das deambulções dos protagonistas. As lacunas de dimensão variada atravessam toda a obra. A sua reconstituição torna-se particularmente difícil ou mesmo impossível. Temos de nos contentar com os episódios que até nós chegaram. O homoerotismo campeia, afastando o modelo diegético latino definitivamente do helénico, que então iniciava o período áureo da sua existência literária já multissecular.
Nas imagens em movimento, a estratégia seguida foi mesmo a de completar o relato com a imaginação criativa do realizador. A estrutura romanesca primitiva mantém-se, sendo entretanto enriquecida com elementos estruturais que asseguram a unidade discursiva de toda a fábula. Assim funciona a Arte em toda a sua plenitude. Assim foi na Antiguidade. Assim é na Modernidade.
É uma pena as livrarias desaparecerem umas a seguir às outras, engolidas pela voragem dos tempos... Nunca li Satiricon, nem vi o filme. Agradeço a partilha do texto que parece assinalar o teu regresso às lides pedagógicas. Se é que alguma vez estiveste ausente...
ResponderEliminarBom dia, Artur.
ResponderEliminarÉ sempre uma dor de alma qdo encerra uma livraria, já tinham uma vida difícil, mas agora, enfim...
Gostei muito do texto e do desafio de leitura.
É verdade Artur, se a minha Barata fechasse, era um enorme desgosto! É muito triste "a alma" dos livros ir desaparecendo...
ResponderEliminarGostei muito do teu texto!�� Uma otima sugestao de leitura. Obrigada, amigo.
É uma alegria ver-te aqui com o Satyricon, só me lembro de a minha mãe nos falar desta obra quando apareceu o filme que foi ver com o meu pai. Nós não fomos nem eu nem o meu irmão...uma tristeza estas livrarias a fecharem mas acredito que reabram !
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