4 de março de 2020

Escola das Naves do Infante de Sagres

LÁPIDE EM MEMÓRIA DO INFANTE DOM HENRIQUE
Fortaleza de Sagres - Torreão Central
 (1839)
«Monum. consagrado, á eternidade. O grande infante D. Henrique filho de el-rei de Portugal D. João I tendo emprehendido descobrir as regiões até então desconhecidas de Africa occidental e abrir assim caminho para se chegar por meio da circumnavegação africana, até ás partes mais remotas do oriente : fundou n'estes logares, á sua custa, o palácio da sua habitação, a famosa escola de cosmografia o observatorio astronomico e, as officinas de construcção naval conservando promovendo e augmentando tudo isto até ao termo da sua vida com admirável, esforço, e constância, e com grandissima, utilidade do reino das letras da relegião e de todo o genero humano. Faleceu este grande principe depois de ter chegado com suas navegações até o 8.° gr. de latitude septemtr. e de ter descoberto e povoado de ente portugueza muitas ilhas do Atlantico aos XIII. dias de novembro de 1460. D. Maria, II rainha de Portugal e dos Algarves mandou levantar este monumento á memoria do illustre principe seu consanguineo, aos 379 annos depois do seu falecimento, sendo ministro dos negocios, da marinha e ultramar, o visconde de Sá da Bandeira. 1839.»
Corografia ou Memoria economica, estadistica e topografica do reino do Algarve
João Baptista da Silva Lopes
CARTELA - ESFERA ARMILAR - ARMAS REAIS - CARAVELA 
Quem entra com olhar atento no complexo majestoso da Fortaleza de Sagres, depara-se no lado interno da Porta da Praça com uma lápide evocativa brasonada que os folhetos turísticos dizem referir-se ao Infante D. Henrique. Os maus-tratos de tempo e a posição elevada em que foi colocada impedem-nos de ler as informações ali gravadas a duas colunas. Os elementos heráldicos esculpidos remetem-nos ato contínuo para a envolvência lendária que o Promotorium Sacrum congregou ao longo dos séculos e que a moderna historiografia tem tido a tarefa árdua de desmontar e clarificar. A escola de náutica e cartografia que ali teria funcionado na época áurea das descobertas desperta-nos inexoravelmente para o imaginário fantasista.

Observando com um olhar ainda mais atento o conjunto emblemáti-co, notamos pouco restar das insígnias do Senhor de Sagres. O bra-são coroado envia-nos para as armas reais da Casa de Avis e mesmo assim com várias anomalias. São coevas do Infante a serpente alada do timbre e a cruz florenciada da ordem militar que deu nome à dinas-tia, mas anacrónica a posição vertical dos escudetes das quinas e o número de castelos da bordadura. Ao Navegador pertence o lema inscrito na cartela que encima as demais figuras simbólicas, o Talent de bien faire, associado à esfera armilar usada por D. Manuel I como divisa pessoal e a nave a vogar na crista das ondas dum mar encrespado alusiva à alegada escola de cosmografia ali fundada.

A primeira referência à Escola das Naus remonta a 1498, coincidindo com a viagem de Vasco da Gama à Índia. A origem do mito estará li-gado à atividade do Infante de Sagres enquanto Protetor do Estudo Geral de Lisboa, cargo exercido de 1431 a 1460. As aprendizagens teóricas e práticas de náutica estariam inseridas nas matérias de aritmética, geometria e astronomia do plano curricular do Quadrivium ministrado na Faculdade de Artes. O contramito da fundação duma academia de ensino superior dedicada ao mar fundada na ponta mais ocidental do Reino do Algarve cai assim por terra. Uma recriação fantasista bem-servida por um emblema nobiliático identicamente fantasista do Príncipe mais destacado da Ínclita Geração de Avis.

NOTA
No dia do aniversário de nascimento do Navegador, Duque de Viseu e Infante de Sagres, que hoje faria 634 anos...

2 comentários:

  1. Quando visitei, há muitos anos, a Fortaleza de Sagres, admirei com prazer a imponência histórica do conjunto arquitetónico, então em fase de restauro. É interessante saber o significado dos emblemas dali presentes, lembrando a grande figura do Infante de Sagres. Da Faculdade das Artes, tive a sorte de participar nunma das visitas que a CML já realizou ao local onde as aulas decorriam, dando a conhecer a importância que assumiu a nível internacional, como sendo umas das melhores de antanho.

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  2. Bela e interessante evocação, já estive em Sagres e conheci a Fortaleza.
    Cá em casa, o período das Descobertas é o mais apreciado.
    Nunca é demais o conhecimento.

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