19 de abril de 2020

Brexit com ingleses à vista

  Vizinhos  de  enfermaria... 

Quando o momento chegou, o Reino Unido abandonou a União Europeia e acantonou-se nas ilhas do além-Mancha, que lhes servem de morada há tempos ancestrais. Batizaram esse êxodo de Brexit. Alguns residentes de longa data resistiriam à partida e resolveram ficar. Regra geral, vivem em comunidades fechadas como se tratasse de verdadeiras colónias do antigo e extinto Império Britânico.

Desde que aqui cheguei já me cruzei com três desses cidadãos. Só um falava português com um forte sotaque inglês percetível. Mantivemos um bom relacionamento enquanto fomos vizinhos de quarto. Outro apreendeu a dizer quatro palavras em 22 anos: Olá, obrigada, boa tarde. Um papagaio não faria melhor. O restante estava impedido de falar mas só reagia quando se lhe dirigiam em inglês.

Felizes criaturas estas que continuam a julgar-se os senhores do mundo, a quem todos devem uma vassalagem medieval. Culpa de quem lhes dá cobertura como se fosse um dever feudal obrigatório e inquestionável. Lamentável atitude anglófona de alguns dos seus membros. Instalarem-se anos a fio no estrangeiro, tomá-lo como seu e não falarem uma única palavra na língua do país que os recebeu.

3 comentários:

  1. Bom domingo, Artur.
    A propósito do tema que nos trouxe vou confidenciar-lhe uma coisinha:no âmbito das minhas funções, embora recuadas no que ao atendimento público diz respeito,dez vez em quanto aparecem-me criaturas dessas que desejam esclarecimentos/informações, normalmente são residentes de longa duração na Ilha. Pois, nunca falei noutra lingua senão na de Camões, qdo não entendem, na maior parte das vezes, solicito que venham acompanhados de um interprete, sempre na nossa língua pátria.Se os demais cidadãos nacionais replicassem o procedimento, a forma de estar das criaturas mudava. Mas não,os portugueses são intrinsecamente cuidadosos no trato com os não falantes da nossa língua. Eu não.

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  2. Vivi três meses em Londres, quando menina moça e moca, com 18 aninhos, como trabalhadora /estudante. Nunca tive uma única razão de queixa da parte deles nem no trabalho, nem nas lojas, nem nas ruas. Sendo mestiça, nunca enfrentei o racismo de que são acusados. Regressei mais duas vezes, uma em trabalho, outra para cumprir os meus 49 anos, numa viagem saudosa 30 anos depois. E continuo a ter a mesma opinião: há bons e maus cidadãos em qualquer país. O Brexit é uma questão política e, infelizmente, após esta crise pandémica que vivemos, faz-nos duvidar da existência de uma comunidade europeia... É uma discussão para outra altura. Ao menos um dos cidadãos britânicos ao teu lado foi bom companheiro de quarto. A arrogância dos que tem mais poder é, infelizmente, apanágio de muitos...

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  3. Eu, analfabeta que sou, vivi uma dituação um pouco caricata por não falar inglês. Um dia, vinda de Bergen, Noruega, fiz uma escala em Londres e tive que fazer novo chekin. Ao balcão, o funcionário que me atendeu não falava Português e resolveu gozar com a minha cara por eu não falar inglês. Fez-me chegar a mostarda ao nariz e volto-me para ele com alguns gestos de mimica fiz-lhe entender que, se eu não falava a sua lingua, ele também não falava a minha. Ao lado, estava um guichet da TAP com um português, que esteve a assistir à conversa que se ri à gargalhada a dizer que por aquela não esperava ele. Desde esse dia nunca mais Indiquei a nenhum inglês, algum lugar ou sitio que aqui, me costumavam perguntar. Nem páro para os ouvir!

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