„En gammel dame fortalte denne historie…For hundrede og tyve år siden, begyndte hun, fortalte min historie sig selv, over et længere tidsrum end De eller jeg nu kan give til den, og med et mylder af enkeltheder og biomstændigheder, som vi aldrig kan håbe på at lære at kende.“Karen Blixen, Ehrengard (1963)
Há uma cena no filme de Sydney Pollack, Out of Africa (1985), onde Meryl Streep, a encarnar o papel de Karen Blixen, nos demonstra a capacidade inata que a aristocrata escandinava tinha de contar uma história, de a improvisar de viva voz quando a ocasião surgia e dispunha dum público atento para a ouvir e se deixar envolver pela intriga. Ao passarmos da versão oral para a escrita, a sensação imediata de quem a lê é a mesma. Tal o caso do Ehrengarda, a ninfa do lago (1963), um conto redigido em inglês, trabalhado depois pela autora e publicado em dinamarquês um ano após a sua morte.
Depois de lidos os livros com dimensão de conto, publicados avulso ou em coletâneas, transpostos ou não para o pequeno ou grande ecrãs, com suporte em vídeo ou bobine de celuloide, o universo imagético criado pela baronesa de Blixen-Finecke possui o dom inato de nos prender à densidade discursiva que nos é dado sempre com a maior economia de meios gráficos e editoriais. Os géneros e subgéneros transmitidos são conjuntamente variados e singulares. A estrutura aparente dum conto de fadas parece ser o modelo seguido neste texto que nos deixou a título póstumo.
A entidade narrativa incumbida de unir as várias vozes que contam a história tem sempre em pano de fundo o testigo duma velha senhora, sua bisavó, através dos escritos por si recebidos dum participante na ação. A crise dinástica dos Fugger-Babenhausen está cindida em três partes/movimentos, anotados na didascálico inicial da comediazinha representada em meados do século dezanove num esquecido e fictício principado livre, alegadamente extinto e diluído no Império Alemão. Ao extenso prelúdio-pastoral-rondó, segue-se um breve epílogo no trecho final da crónica grã-ducal de Lotário (= guerreiro famoso) e Ludmilla (= amada do povo), bem como do desempenho em cena de Ehrengarda (= guarda de honra), a dama de honor da herdeira consorte do trono, a Ninfa do Lago, retratada como Vénus no banho pelo pintor da corte Herr Cazotte.
O raconto deixado inédito pela antiga dona duma quinta africana e senhora absoluta de Rungstedlund nas imediações de Copenhaga, também conhecida por Isak Dinesen, expõe-nos um cenário mágico sem fadas nem bruxas, sem elfos nem duendes, sem feitiços nem varinhas de condão, sem reis nem rainhas, sem sequer dispor dum final feliz. Revela-nos, todavia, alguns segredos de alcova, intrigas de bastidor e duelos travados pelas linhagens dinásticas legítimas e pelos ramos colaterais duvidosos de grão-duques e grã-duquesas, de príncipes e princesas, de damas e cavaleiros de nobreza registada nos anais ancestrais dum país de fantasia. Dá-nos ainda a conhecer o caso irónico dum sedutor que acaba seduzido, singularidades laterais a rivalizar com a centralidade da palavra dita feita escrita.
Belo texto pedagógico, Prof.! Não conheço este sugestivo título de Karen Blixen, uma autora de quem muito gosto, com destaque para o Out of Africa que nos brindou com o extraordinário filme que vale sempre a pena rever.
ResponderEliminarTrata-se dum texto muito curioso como, aliás, todos os contos que nos legou. Já o tinha há alguns anos, mas só agora descobri que não o tinha lido ainda. Falta imperdoável mas já resolvida...
EliminarUma reflexão convidativa.
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