10 de junho de 2024

Berço e Tumba de Camões

CAMÕES (2019)
Alexandre Farto Aka Vhils
[Lisboa, Imprensa Nacional, Mural]

Erros meus, má fortuna, amor ardente


Erros meus, má fortuna, amor ardente
em minha perdição se conjuraram;
os erros e a fortuna sobejaram,
que pera mim bastava amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
a grande dor das cousas que passaram,
que as magoadas iras me ensinaram
a não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
dei causa que a Fortuna castigasse
as minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
este meu duro génio de vinganças!

Luís de Camões*

NOTAS
Soneto autobiográfico a assinalar o início tímido e tardio da celebração oficial dos 500 anos do nascimento de Camões, na data apontada para a sua morte. Absurdos repetidos à exaustão, a demonstrar por A+B a importância que se costuma dar em vida aos grandes vultos da cultura, faz-se tábua rasa do berço e tecem-se loas à tumba.

* Transcrita por Maria de Lourdes Saraiva IN Luís de Camões, Lírica completa II - Sonetos Lx: IN-CM, 1980 (ed. 1999: p.188) 

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