Rosen am Parkhaus GleisdreieckSergej Alexander Dott, 2003 |
Numa visita relâmpago a Berlim, deparei-me com um conjunto de ro-sas vermelhas esculpidas num material desconhecido que me pare-ceu aparentado com o plástico. Encontravam-se plantadas estra-tegicamente numa zona supermoderna junto às margens do rio Spree e nas imediações da Potsdamer Platz. Interroguei-me sobre quem seria o seu autor e qual o sentido que lhes teria querido dar. Fiquei-me pelas dúvidas e com um par de fotografias obscurecidas pela neblina ambiente. Além do mais, já passava das quatro da tarde, fazia um frio de rachar e a noite já se pressentia no horizonte. As pesquisas exatas teriam de aguardar por uma melhor ocasião.
Embrenhei-me no centro urbano da capital alemã e pus-me a res-pirar a cultura que a grande metrópole me oferecia nessas vésperas de Natal. As marcas que o tempo foi semeando um pouco por todo o lado continuam bem visíveis, apesar da camuflagem clínica per-petrada para tapar as feridas da II Guerra Mundial e da Guerra Fria que se lhe seguiu. O Muro da Vergonha continua presente mesmo quando está ausente. De repente pensei que cada rosa vermelha simbolizasse uma vida perdida na tentativa gorada de pular de Berlim Leste para Oeste por cima dessa parede de cimento armado. Fiquei satisfeito com a solução encontrada e esqueci-me do assunto.
Voltei a pensar nas rosas vermelhas já no conforto do lar. As es-culturas que fotografara num dia de inverno antecipado teriam de contar os seus segredos. Pesquisei na NET e lá encontrei algumas pistas em alemão que o tradutor Google me ajudou a precisar. Trata-se dum conjunto de 86 exemplares criadas por Sergej Alexander Dott, artista local de Arte Pop, que se limitou a transmitir em termos plásticos a simbologia que essa flor espinhosa ganhara ao longo dos séculos. Os 136 mortos da Cortina de Ferro não moram definitivamente no roseiral semeado no Parkhaus Gleisdreieck de Berlim, tal como a imaginação fantasista ingenuamente confabulara.
Momentos que se eternizam na nossa memória... Pensei que as rosas, quando as mostraste no teu mural, teriam um simbolismo ligado à queda de Berlim, já que a capital germânica é prenhe de memórias sobre a guerra fria, até na própria aura mística da cidade. De qualquer modo, julgo que a explicação que a internet nos oferece acaba por envolver também o sangue derramado pelos 136 resistentes que preferiram desafiar a mão-de-ferro ao comodismo estupidificante de uma vida prisioneira, inscrevendo a sua ousadia/valentia na história contra a ditadura... Obrigada pela partilha das Rosen mágicas de Sergej Alexander Dott!
ResponderEliminarSe nos situarmos a rosa vermelha na fronteira simbólica do rosto do amor helénico e da máscara do diabo cristão, então a extravagância das rosas vermelhas de Dott significam aquilo que a imaginação fantasista muito bem entender. A memória dos resistentes da cortina de ferro pode muito bem residir no roseiral esculpido num arruamento de Berlim…
EliminarAcho admirável o facto de, numa visita relâmpago e com tanto frio (eu imagino), ter conseguido ainda retratar símbolos novos e desconhecidos dessa capital incomparável... Obrigada pela parte que me calhou!
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