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Ainda hoje a nossa sensibilidade ocidental e as nossas mais comuns referências interiores provêm de uma dupla origem: Jerusalém e Atenas. Ou, para sermos mais exatos, a nossa herança intelectual e ética, bem como a leitura que fazemos da nossa identidade e da morte, vêm-nos directamente de Sócrates e de Jesus de Nazaré. Nenhum deles, contudo, fez questão de ser autor e muito menos de ser publicado.George Steiner, O silêncio dos livros (2006)
Notícia recente avançada pelo semanário SOL dá-nos conta que o livro de José Sócrates, A confiança no mundo – Sobre a tortura em democracia (2013), não foi escrito por ele. Mais um incidente aces-sório a juntar a esta telenovela da vida real transmitida diariamente pelos habituais meios de comunicação social. Tê-lo-ia encomendado a um escritor fantasma que abdicara dos seus direitos intelectuais. Calúnias. Apressou-se a afirmar o ex-primeiro-ministro português com nome de filósofo grego, que se prepara para processar o jornal de grande tiragem com nome luminoso de astro-rei. Tudo isto num só dia, como manda o cânone da tragédia ática.
Esta cena burlesca trouxe-me de imediato à lembrança o argumento dum filme de Roman Polanski, O escritor fantasma (2010), e o teor dum ensaio de George Steiner, O silêncio dos livros (2006). Pedi emprestado o título ao cineasta franco-polaco para identificar estas histórias em contracorrente e uma frase ao escritor franco-inglês para lhe servir de epígrafe. O confronto entre todos os atores referidos permite-nos situá-los em dois campos de ação diametralmente opostos: aqueles que fundaram sistemas globais com livros que não escreveram e aqueles que se afundaram nesses mesmos sistemas com livros que dizem ter escrito.
Não li nem vou ler o tal livro de autor duvidoso. A polémica gerada por um bestseller mediático falhou no intento de me fazer viajar no seu interior. Nem o prefácio de Lula da Silva e o posfácio de Eduardo Lourenço me levaram a fazê-lo. Prefiro dirigir as minhas leituras de lazer para outras paragens mais promissoras de encontrar o diferente. Como voltar à companhia de George Steiner e percorrer as páginas de Os livros que não escrevi (2008). Confissão admirável só possível num mestre na arte de surpreender os leitores. Rosto no rosto. Sem a máscara dramática do hypokritḗs em palco, de se fazer passar por aquilo que não é ou finge ser.
Esta cena burlesca trouxe-me de imediato à lembrança o argumento dum filme de Roman Polanski, O escritor fantasma (2010), e o teor dum ensaio de George Steiner, O silêncio dos livros (2006). Pedi emprestado o título ao cineasta franco-polaco para identificar estas histórias em contracorrente e uma frase ao escritor franco-inglês para lhe servir de epígrafe. O confronto entre todos os atores referidos permite-nos situá-los em dois campos de ação diametralmente opostos: aqueles que fundaram sistemas globais com livros que não escreveram e aqueles que se afundaram nesses mesmos sistemas com livros que dizem ter escrito.
Não li nem vou ler o tal livro de autor duvidoso. A polémica gerada por um bestseller mediático falhou no intento de me fazer viajar no seu interior. Nem o prefácio de Lula da Silva e o posfácio de Eduardo Lourenço me levaram a fazê-lo. Prefiro dirigir as minhas leituras de lazer para outras paragens mais promissoras de encontrar o diferente. Como voltar à companhia de George Steiner e percorrer as páginas de Os livros que não escrevi (2008). Confissão admirável só possível num mestre na arte de surpreender os leitores. Rosto no rosto. Sem a máscara dramática do hypokritḗs em palco, de se fazer passar por aquilo que não é ou finge ser.