9 de fevereiro de 2016

Tragédias, comédias & carnavais

VASO DI  PRONOMOS (c. 410 AEC )

«Preparazione della recita di un dramma satiresco»
[Museo Archeologico Nazionale di Napoli]

Itinerários dramáticos do hipócrita...
Quando os Hinos dedicados a Dioniso se converteram em Dramas patrocinados pelo filho de Sémele e Zeus, os descendentes de Heleno tinham acabado de criar o teatro ático. Um elemento do coro circular destacou-se do grupo, dirigiu-se ao centro da orquestra, ocupou o local destinado ao deus tutelar dos regressos bem-vindos. Depois, dançou, cantou e falou como se fosse a encarnação da divindade que nascera duas vezes e triunfara da morte. Passaram a chamar-lhe hypokritḗs, aquele que fingia ser o que não era.

Quando ao Canto do Bode se juntou o Canto da Aldeia, os ritos dionisíacos anuais ganharam uma nova forma de escapar à transitoriedade da vida. Os conflitos remotos de deuses e heróis começaram a ombrear com os conflitos atuais dos homens. A representação mítica da Tragédia transformara-se na apresentação realista da Comédia. A superioridade dos imortais é confrontada com a inferioridade dos mortais. A imitação de ações de caráter elevado é completada pela imitação de ações de caráter inferior.

Quando os espetadores se viram cara-a-cara com estes dois modos antagónicos de celebrar a condição humana, hesitaram entre um e outro. Ostracizaram o primeiro e eternizaram o segundo. Adaptaram-no aos novos tempos e inventaram o Carnaval. Durante três dias dá-se livre curso à liberdade catártica de escarnecer os defeitos alheios. A máscara criada por Théspis dá lugar às máscaras do Rei Momo. A res seria sai do palco e a res ridicula entra em cena. Triunfal. Como nos tempos de Dioniso mais conhecido por Baco.

2 comentários:

  1. Que texto/história interessante!
    Não admira, afinal, por detrás de todas as celebrações, existem sempre histórias de deuses, de heróis e de simples mortais...

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  2. Um admirável enquadramento mitológico da época que atravessamos, durante a "res ridicula" aproveita para extravasar pensamentos e ações. Valha-nos a sorte de haver quem sublime também bons sentimentos na imitação.

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